segunda-feira, 14 de julho de 2008

Kid 17

Diz a lenda que se ao terceiro rugido do leão da Metro-Goldwyn-Mayer, na abertura d'O Mágico de Oz, for dado play no The Dark Side Of The Moon, do Pink Floyd, o disco soará como uma trilha musical para o filme, tanto pelas melodias quanto pelo conteúdo das letras. Esse é o mais clássico exemplo do ponto a que pode chegar a criatividade de fãs pelas bandas que admiram. Mas nesse post é outra lenda que nos interessa.
A lenda sobre a qual estou falando envolve outra banda, também inglesa como o Pink Floyd, o Radiohead.
Kid A, disco lançado em 2001, é conhecido pelas sonoridades pouco convencionais que tem. Nele a banda abusa de vozes distorcidas, sintetizadores, baterias eletrônicas e quase não sobre espaço para guitarra, bateria e demais instrumentos comuns que eram usados nos discos anteriores.
Aí alguém algum dia teve a idéia de botar o Kid A pra tocar, esperar 17 segundos e botar outro Kid A pra tocar. Aí surgiu o Kid 17.

Como não pretendo analisar melodias, letras, nem nada sobre o album original, apenas falar sobre a experiência de tocá-lo com ele próprio tocando junto, vou comentar faixa a faixa.

01 - Everything in it's Right Place
Essa música originalmente já tem várias vozes de Thom Yorke sobrepostas, no Kid 17 isso se intensifica. O duplicação do piano também ajuda a aumentar o clima denso da música, em alguns momentos em que gera intervalos mais dissonantes e com ritmo quebrado.

02 - Kid A
Nessa a coisa fica mais interessante, o piano que faz a melodia principal da música fica sincronizado com a sua cópia, a bateria também, a música flui muito bem e as vozes robotizadas só se cruzam em uma ou duas frases, na maioria do tempo um canta entre as frases do outro.

03 - The National Anthem
O instrumento mais marcante em The National Anthem é, sem dúvida, o baixo. E é justamente o baixo o único instrumento que fica sincronizado quando a música é tocada no Kid 17. A linha principal se preserva e continua se destacando na música. A voz, assim como na faixa anterior, encaixa os versos de um cd entre os versos do outro. Os solos de sopro, que já tem um tom caótico normalmente, ficam ainda mais confusos. E a bateria vira uma loucura.

04 - How To Disappear Completely
A letra de How To Disappear Completely é como um mantra, as frases se repetem várias e várias vezes. No Kid 17 a duplicação dá uma impressão de conversa, como se um disco respondesse a cada frase do outro. Apesar da letra não combinar com uma conversa, continua sendo um efeito bem interessante.
A bateria não fica sincronizada, mas ao contrário de National Anthem, soa bem, e a melodia também não causa tanto estranhamento.

05 - Treefingers
Treefingers é instrumental, sem percussão, cheia de notas longas e que se misturam. Duplicada, continua soando assim, nem parece que tá sendo tocada desse jeito. Alguém desavisado acreditaria se você dissesse que a música é asism mesmo.

06 - Optimistic
Essa é a única que não funciona. As guitarras misturadas até resultam em coisas legais de vez em quando, mas as vozes se atropelam, o ritmo das baterias fica muito estranho. Nas partes mais pesadas esse embolo até gera alguma coisa bacana, mas essa é mesmo a menos interessante.

07 - In Limbo
Aqui vale o mesmo que para Everything in it's right place, a música normalmente já tem várias vozes sobrepostas e isso se intensifica. A guitarra dedilhada as vezes se encontra com a sua duplicação e fica legal também. A bateria, que é cheia de viradas, fica meio confusa.

08 - Idioteque
Idioteque é a melhor música do Kid A, e também a melhor do Kid 17. As batidas eletrônicas que conduzem a música se sincronizam e em alguns momentos criam ritmos diferentes. As vozes também batem e cantam alguns versos juntas, em outros momentos, cantam versos diferentes ao meso tempo. Isso já existe na música original, então em alguns momentos thom canta quatro ou cinco coisas ao mesmo tempo. Perto do final, numa passagem instrumental da música, as batidas se combinam num ritmo mais quebrado que o da música original. Por essa música já vale a pena ouvir esse tal de Kid 17 (assim como por ela já vale a pela ouvir o Kid A).

09 - Morning Bell
Quando você ouve Idioteque no Kid17, você pensa que foi a partir dela que o inventor disso teve a idéia de fazer com o disco todo. Mas quando você ouve Morning Bell você já muda de idéia.
As baterias batem literalmente ao mesmo tempo, ou seja, soam como uma só, com mais volume. As vozes se complementam, assim como os outros instrumentos. Soa como se fosse uma música só.

10 - Motion Picture Soundtrack
A última música infelizmente não fica tão legal quanto as duas anteriores, então você acaba lembrando, antes dos discos acabarem, que é só uma dessas invenções de fã mesmo. Mas ainda tem coisas legais sim, as bases melódicas e os arpejos no piano ficam num clima ainda mais etéreo do que no original. A voz é que fica num ritmo esquisito.


No fim das contas, se você é fã do radiohead ou gosta dessas lendas malucas, eu acho que vale a pena sim ouvir o Kid 17 e ver o que você acha. Se precisar de uma justificativa, lembre-se que o album fala sobre o primeiro clone humano (o Kid A), e que é cheio de esquisitices mesmo, como o encarte "secreto", que vem debaixo da parte em que se encaixa o cd.
Já se você não gosta dessas lendas ou não é tão fã do Radiohead assim, vale a pena ouvir pelo menos Idioteque.
Claro que hoje em dia você não precisaria ter dois sons e duas cópias do cd para matar sua curiosidade sobre a lenda, alguém já sincronizou os arquivos e espalhou pela internet. Você pode baixar aqui, no ótimo blog Pendurado para Secar.
E, antes que alguém venha questionar minha sanidade, eu quero deixar claro que não acredito que a banda tenha feito o disco pensando nisso.


3 comentários:

blah disse...

Achei um tanto inspirador essa idéia de escrever o sentimento e a musicalidade de cada faixa. Inspirador e inovador.
Demorei a gostar de Radiohead, talvez porque sua música se conecte fácil a um fio da minha, e de muitas almas* [ou mentes*, dependendo do ponto de vista]. Às vezes, incomoda. Mas às vezes, é balsâmico ouvir os delírios dos acordes da banda. E o que é o delírio afinal?!


"The National Anthem" - vou baixar o álbum novamente e apreciar o 'baixo' nessa música. A análise me criou vontades de ouvir.



Postem sempre, que volto sempre.
.beiijos

João Rodrigo Zanetti disse...

Muito massa!
já tou baixando! heheeh

só queria saber pq sãoo 17 segundos!
sei lá, se tem alguma coisa no numero 17, alguma dica em algum lugar, alguma interpretação pseudogodard, enfim...

parabéns, Marcon!

Unknown disse...

Adorei a iniciativa! Manter um blog ativo não é fácil, espero que cheguem lá...

É claro que nãos li tds os post(até msm porque muita coisa passa longe da minha humilde compreensão), mas adorei o do Móveis Coloniais de Acaju e recomendo!

Boas férias, meninos!