sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Adeus, ano velho!

Dezembro é aquele mês em que as pessoas ponderam sobre como foi o ano que está acabando, que os canais de TV passam suas retrospectivas destacando o que mais foi notícia, e que blogs como este, que falam de música, fazem listas de melhores discos do ano. Não tentarei dizer quais foram os melhores, tanto por nem ter ouvido tantos discos esse ano quanto porque, afinal, quem sou eu pra dizer o que é melhor que o que, né? Então essa lista tá mais para “Os discos que o Rafael mais curtiu em 2008” do que para “Os Melhores do ano”
In Rainbows, do Radiohead, fica de fora porque eu o considero um lançamento de 2007, apesar de só ter ido pras lojas em cd dia 01/01/08
Então aí vai a lista, do último ao primeiro lugar.

10 – Anywhere I Lay My Head – Scarlett Johansson


Em seu primeiro registro fonográfico, Scarlett Johansson, mais conhecida por seu trabalho como atriz, apresenta onze canções, sendo que dessas, apenas uma é original (Song for Jo) e dez são regravações, todas de Tom Waits. Eu não conheço as gravações originais, e até vi por aí fãs do autor reclamando do disco de Scarlett, mas gostei das versões da moça. O disco é todo levado em ritmo lento – exceto por I Don’t Wanna Grow Up, que faz lembrar que os Ramones já a regravaram antes – e em ambientação meio obscura, apoiada em longas notas de órgão. Isso faz com que nem sempre seja fácil ouvir os 45 minutos do album de uma só vez, mas se você estiver no clima certo, vai muito bem.

Destaques: A instrumental Fawn, que abre o disco, e Falling Down, com participação de David Bowie.

9 – Segundo Ato – O Teatro Mágico


Após alguns anos de espera e já sem alguns de seus membros originais, a trupe (como prefere ser chamada) de Fernando Anitelli apresenta seu segundo disco. Várias músicas já eram conhecidas de quem frequenta os shows da banda (não exatamente o meu caso) e só esse ano tiveram suas versões de estúdio lançadas, mas há também boas novidades.
Neste segundo ato, Anitelli trata em suas composições de temas mais sérios do que no primeiro lançamento. Aqui aparecem moradores de rua, trabalhadores explorados, televisão alienante, arte desvalorizada, e ainda algumas sobre comportamento e relacionamentos, todas bastante interessantes.

Destaques: Xanéu N°5, com Zeca Baleiro, e “...”, a faixa que fecha o disco e inclui uma música bônus.

8 – Save Your Soul – She Wants Revenge


Este é o único da lista que não é exatamente um álbum, e sim um EP (algo longo demais pra ser um single e curto demais pra ser um álbum), tem apenas 4 músicas, mas 4 belas músicas, então merece um lugar na lista.
A banda americana que ano passado mesmo lançou o também muito bom This is Forever, esse sim um álbum com suas 13 faixas, aparece agora no formato reduzido, e se dá muito bem nele. Com uma pegada menos sintetizada e eletrônica que anteriormente, os quase 18 minutos do disco revelam a banda em momentos ora mais pesados, ora mais melodiosos, mas sempre com a mesma empolgação de sempre.

Destaque: Save Your Soul, a faixa título.

7 – Consoler of the Lonely – The Raconteurs


Ao contrário do que muitos pensavam, os Raconteurs, banda que conta com Jack White, dos White Stripes, não era apenas um projeto paralelo de um disco só. Eles voltaram em 2008, com Consoler of the Lonely.
Aqui o senhor White não parece tão maluco como nos stripes – em que faz música de tourada e toca marimba – apesar de manter seus solos estridentes e seu timbre característico de voz. A banda apresenta bons rocks, às vezes com jeito de folk e blues, quase sempre com refrões marcantes e momentos em que as músicas crescem em arranjos grandiosos que contam com violinos, conjuntos de sopro, piano, além das tradicionais guitarras, baixo e bateria.
No geral, a banda de rock do Jack White, como o Jão costuma chamar os Raconteurs, parece mais uma banda madura e menos um projeto paralelo.

Destaques: The Switch and the Spur, Many Shades of Black, e a épica western Carolina Drama

6 – Tudo se Torna - ½ Dúzia de 3 ou 4


Disco de estréia da banda paulista ½ Dúzia de 3 ou 4, que como eles mesmos dizem, faz MPB, nem tão P, mas bastante B. Já os vi ao vivo duas vezes, e em ambos os shows, assim como no disco, a banda é irreverente, original e muito competente musicalmente.
No álbum, de 14 faixas, há espaço para samba, baião, e vários outros ritmos. Uma característica que me agrada a banda é a presença de várias vozes, masculinas e femininas, que lembram Karnak e Tom Zé, por exemplo. Este último é inclusive homenageado na música Tom Zé é Pai. Além da canção para Tom Zé, ainda aparecem no disco Sasha, Marco Maciel e outros assuntos que as vezes passam batido pelo cotidiano mas que a banda faz questão de nos lembrar.

Destaques:Samba da ONG, que questiona a validade de parte do terceiro setor, Gingko Biloba e Sabe Vó, sobre a morte de passarinhos e dignidade do tratamento de seus corpos.

5 – Estudando a Bossa – Nordeste Plaza – Tom Zé


Em 2008 a Bossa Nova completou 50 anos, Tom Zé completou 72. Portanto, é de se imaginar que ele a conheça bem.
O terceiro disco de estudo do baiano – os outros são Estudando o Samba, de 1976, e Estudando o Pagode, de 2005 – foi considerado por alguns como a melhor homenagem entre tantas que a bossa recebeu pelo seu cinquentenário. A seu modo, Tom condensa em pouco mais de 40 minutos todos os elementos essenciais da bossa, como o mar, a síncope, a voz sussurrada e tudo mais. No disco estão referências a João Gilberto, Caymmi, Tom Jobim, Vinicius, etc. Até os cantores anteriores à bossa, para quem esta foi um terremoto, nas palavras do disco, aparecem.
Na maior parte do tempo, Tom apresenta uma leveza muito diferente do seu disco anterior, Danç-Êh-Sá, e é acompanhado por cantoras em 12 das 14 faixas do álbum(Zélia Duncan, Fernanda Takai, Mônica Salmaso, entre outras), que se completa com uma faixa que tem David Byrne e outra em que Tom canta sozinho mesmo.
Novamente Tom Zé mostra que o tempo não lhe tira em nada as capacidades de fazer coisas novas, únicas e excelentes.

Destaques: Barquinho Herói, Outra Insensatez, Poe!, com versão em inglês por David Byrne e Solvador, Bahia de Caymmi, homenagem a Dorival Caymmi, que faleceu neste ano.

4 – The Age of the Understatement – The Last Shadow Puppets


Os Last Shadow Puppets são Alex Turner, dos Arctic Monkeys, e Miles Kane, dos Rascals. The Age of the Understatement é o primeiro lançamento dos dois juntos. Espero que não parem por aqui.
O disco tem uma riqueza de arranjos muito interessante, sempre com orquestrações bem perceptíveis, remetendo a gravações de outras décadas, mas mantendo a pegada enérgica num estilo característico ao rock mais recente de onde saíram os caras da banda, e que tem os Arctic Monkeys como um dos maiores representantes.
Se você gosta dos Monkeys ou dos Rascals, vale a pena ouvir, se não, vale também, pois o som dos Shadow Puppets não é uma mera ligação dessas bandas.

Destaques: Calm Like You, Black Plant e The Time Has Come Again, a última e mais calma do disco.

3 – Little Joy – Little Joy


Assim como o disco anterior, este também é uma junção de membros de outras bandas. Fabrizio Moretti, dos Strokes, e Rodrigo Amarante, dos Hermanos, integram o Little Joy, que se completa com Binki Shapiro, a namorada de Fabrizio. E assim como no disco dos Last Shadow Puppets, quem espera uma mistura das bandas dos caras aqui se engana redondamente, e logo de cara, pois a primeira coisa que se ouve colocando esse disco pra tocar é um Ukelele, que dá início a um clima de praia que permeia todo o álbum.
Apesar de algumas coisas lembrarem os strokes e os hermanos – principalmente, claro, a voz de Amarante, apesar de cantar em inglês 10 das 11 faixas do disco – o som do Little Joy é bastante original, com boas surpresas nas baladas sussurradas pela banda toda junta, na suavidade de quando Binki assume a voz principal, e nos ritmos que as vezes lembram o rock dos anos 50 e 60.

Destaques: Brand New Start, com refrão contagiante, Keep me in Mind, a que mais tem jeito de Hermanos misturado com Strokes, e Evaporar, que fecha o disco com letra em português.

2 – Oracular Spetacular – MGMT


Este disco, assim como o In Rainbows, foi lançado digitalmente em 2007 e fisicamente em 2008. Mas como não teve o mesmo alarde em torno de seu lançamento que o disco do Radiohead, Oracular Spetacular foi aparecer mesmo esse ano, então vale pra essa lista.
O Eletrorock da dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi destaque no mundo todo por combinar ritmo empolgante com efeitos e timbres psicodélicos (que aliás, me fazem lembrar dos Flaming Lips) em canções que soam muito novas e ficam tocando na cabeça depois de ouvidas.

Destaques: Weekend Wars, The Youth, Kids, The Handshake.

1 – O Coração do Homem-Bomba I e II – Zeca Baleiro




E finalmente, o primeiro colocado da lista, o álbum de 2008 que mais me diverti ouvindo. Se bem que é normal se dedicar mais a este, já que O Coração do Homem-Bomba, lançado em dois volumes – o primeiro em agosto e o segundo em novembro – tem 27 faixas (28 contando a faixa bônus) e totaliza quase noventa minutos de música. E não é qualquer música, parece que ultimamente Baleiro esteve inspirado como quando lançou PetShopMundoCão, já citado aqui no blog anteriormente.
Tudo que sempre apareceu de legal em sua carreira aparece aqui, letras engraçadas, ritmos dançantes, regravações inspiradas, baladas românticas, referências à cultura maranhense (a terra do cantor), citações a grandes nomes da música brasileira (Raul Seixas, Geraldo Vandré, Odair José, entre outros), crítica social, misturas inusitadas na construção das músicas.
Enfim, se eu tiver que sugerir a alguém um único disco de 2008 para ouvir, será esse. Ou esses, depende do ponto de vista. Eu coloco como um só porque senão ia ter dois discos do Zeca Baleiro numa lista de 10.

Destaques: Do volume I: Vai de Madureira, Ela Falou Malandro, Geraldo Vandré. Do Volume II: Era, Tacape, Pastiche.

Pronto. Aí a minha lista de discos desse ano. Se você sentiu falta de algum, pode ser porque eu não tive tempo de ouvir todos que queria (nessa situação podem estar Third, do Portishead, o de estréia dos Ting Tings e o disco vermelho do Weezer), ou então porque eu ouvi e não foi mesmo dos meus favoritos. Tem outros que eu sei que são legais mas que não ficaram na lista, como os discos ao vivo lançados esse ano pelo Blue Man Group (How to Be a Mega Star Live) e pelo Justice (A Cross The Universe). Esse ano teve ainda o lançamento mais aguardado da história – aguardado por 15 anos - Chinese Democracy, que ainda não ouvi e não sei se ouvirei, já que não sou fã do Guns nem nada. Mas que é bom ser citado pra lembrarmos que tudo é possível.
Se tem algum disco desse ano que você gostou e não está aqui nesse post, comente dizendo qual é, até para que eu possa ouvi-lo e ver se gosto também.

Paro por aqui porque esse já deve ser o post mais longo do blog.

Até 2009!