quinta-feira, 31 de julho de 2008

As Meninas dos Jardins


Zeca Baleiro é um dos grandes nomes da música pop nacional dos dias de hoje, na minha opinião. E PetShopMundoCão (2002) é, ainda na minha opinião, seu melhor disco. Sendo ainda mais específico: As Meninas dos Jardins, décima faixa desse disco, é a mais interessante delas. E é sobre ela esse post.


Uma das características que mais me faz ser fã do Baleiro é a sua capacidade de misturar sonoridades e referências em suas músicas, talvez por isso eu goste tanto d’As Meninas dos Jardins. A música começa com um piano, depois entram instrumentos de orquestra, beat box e um cavaquinho, tudo de uma vez, antes de entrar a voz de Zeca. Daí já se percebe que as influências são múltiplas. Durante a música aparecem versos de Rua Augusta(Hervé Cordovil)(gravada por Ronnie Cord, Mutantes, Raul, e outros) e Alegria, Alegria(Caetano Veloso).

A letra fala principalmente da desigualdade social, que a música situa na São Paulo contemporânea (referências a bairros e ruas da cidade, como a rua Oscar Freire, por exemplo), mas certamente não se limita a essa cidade ou a esse tempo (isso fica claro nos versos que precedem o título da música na letra: Caravela de Cabral / Morte e vida Severina / As Meninas dos Jardins gostam de rap)

As Meninas dos Jardins gostam de rap. Isso me faz lembrar um verso de Nego Drama, dos Racionais Mcs, em que Mano Brown canta “seu filho quer ser preto, rá, que ironia”. Não é por acaso que me lembra, a música do Baleiro também cita Mano Brown, nos versos “eu vi o mano Mano Brown cantando um rap pra valer / eu vi o mano Mano Brown vestindo Gap na tv”. Acho esse um dos grandes versos da letra, além de demonstrar admiração por Brown, Baleiro ainda comenta sobre a opção do rapper de se vestir com roupas de marca, o que pode gerar grandes discussões; mas esse é um assunto que deve ser olhado melhor nas letras do próprio Brown. Sobre as Meninas dos Jardins, elas gostam de rap mas não só disso, aproveitando-se de seu costume de fazer trocadilhos, Zeca diz que As Meninas dos Jardins gostam de rap / As meninas dos jardins gostam de happy end, aí dá pra ver que elas podem gostar da pose de rapper e tudo mais, mas querem mais o mundo bonitinho dos filmes com final feliz.

O último estrofe da música é mais duro, soa ateu em orações ao vento / preces sem destino. É imagético no verso Sangue no asfalto, e recorre ao trocadilho novamente quando termina dizendo Ninguém é alto o suficiente que não possa rastejar. Essa é a última frase que Zeca canta na música, depois disso entra um coro de mulheres cantando uma cantiga popular adaptada.

"O meu boy morreu
que será de mim?
manda buscar outro correndo
lá no itaim"

(na cantiga original, quem morre é um boi e o outro deve ser buscado no Piauí)


Depois disso, há uma conclusão instrumental da música, novamente beat box, orquestra e acaba só com o piano do começo.


Uma coisa que eu pensei enquanto escrevia isso tudo é que a música também tem cara de narrativa mesmo. O cara acorda de manhã, vai trabalhar de motoboy, desce a rua augusta para fazer algum trabalho nos jardins (a augusta liga o centro aos jardins), passa pela oscar freire quando esta cruza a augusta, no fim acaba sofrendo um acidente e morrendo, aí entra a responsável cantando que precisa de um boy novo. Mas não garanto que seja isso, e nem precisa ser isso pra ser uma excelente letra.


Bem, no texto sobre o Kid17 eu disse que só por Idioteque valia a pena ouvir o disco, é chato me repetir, mas é verdade, por As Meninas Dos Jardins já vale a pena ouvir tudo que puder do Baleiro (e não é pouca coisa). Eu pulei um monte de coisa que queria ter dito aqui, pra não ficar um negócio tão longo e chato, mas espero ter conseguido despertar o interesse de ouvir a música em quem não a conhece.


quarta-feira, 30 de julho de 2008

O que importa é o amor

As bandas de rock "moderno", ou "alternativo", ou qualquer coisa, estão mostrando ao mundo mais do que nunca que guitarra é muito mais criatividade e muito menos virtude.

Esses aí da foto são, pra quem não conhece, Yngwie Malmsteen e Jack White, respectivamente. Malmsteen é conhecido por sua incrível habilidade e destreza com a guitarra e as escalas musicais. É o rei dos arpeggios, faz músicas abusrdamente complexas, rápidas e impossíveis de serem tocadas por pessoas normais (brincadeira. mas eu não consegui). Jack White é conhecido por liderar a banda/duo The White Stripes, e por sua música minimalista, riffs pequenos e fáceis. Mas isso não o impede de destruir o mundo na guitarra. Aqueles riffs fáceis são tambéms pegajosos e fortes.

O que eu quero dizer aqui é que hoje é muito claro pra mim que o que importa pra vc fazer música não é a virtude, e sim a criatividade. Criatividade depende de virtude? Não sei, acho que não, sinceramente.

Nenhuma revolução precisou ocorrer pra isso poder ser falado. Na verdade eu acho que isso é mais um post meu pra mim mesmo. Eu já tive essa fase de só gostar de coisas extremamente difíceis. Foi minha fase Metallica. Eu ainda gosto deles. Mas abri bem a cabeça. (Aliás, fãs do Malmsteen, não me levem a mal: Eu reconheço que ele é foda, até acho legal Arpeggios From Hell. É que a fase passou. E ele é o extremo oposto dos guitarristas que eu ouço hoje, então era útil pro exemplo.)

É lógico. A simplicidade em detrimento da habilidade sempre existiu. Ramones, por grande exemplo. Mas como eu nem era nascido, e nem tinha amadurecido meu pensamento pra isso, prefiro pegar como exemplo as bandas atuais. Strokes, White Stripes, Arctic Monkeys. Nessas bandas, as linhas de guitarra geralmente são muito simples, "tocáveis", e incrivelmente boas! São fortes e eficientes. Aliás, foi ouvindo o que eu estou ouvindo nesse exato momento - Arctic Monkeys - que eu decidi escrever isso tudo. É incrível. É um riff que qualquer pessoa conseguiria fazer! Só que ninguém nunca tinha pensado nele. Aí o cara vai e faz, e vc não consegue parar de ouvir!
Os solos costumam existir em menor proporção (comparando com uma banda de metal melódico, por exemplo), e são mais simples e menores, na maioria das vezes. Porém ainda sim eficientes para a música (que é o que um solo tem que ser, na minha opinião, ao invés de uma demonstração desnecessária de skill). No caso do Jack White, são também bem mais estridentes e bizarros do que quaisquer outros solos de qualquer coisa que faça som no mundo.

É isso, basicamente. Não vou me prolongar como fiz no último álbum do qual falei (tá ele merecia, vai). Mas fica aí a criatividade!
Sugestão forte: Ouçam o som desses caras: Albert Hammond Jr. e Nick Valensi (The Strokes), Jack White (The White Stripes, The Raconteurs), Alex Turner e Jamie Cook (The Arctic Monkeys).
E um brinde: John Frusciante. Do Red Hot Chili Peppers. É brinde pq não é rock moderno/alternativo/sei lá o que. Ele já foi eleito o guitarrista mais criativo do mundo, e suas linhas são geralmente simples, e muito originais. Puta som.
Músicas? "Seven Nation Army" - White Stripes (não tem música que mostre melhor um riff simples porém totalmente eficiente). "Flourescent Adolescent" - Arctic Monkeys. "Razorblade" - The Strokes. E lógico, "Readymade" - Red Hot, de brinde.

Considerações finais:
- Os caras das guitarras complicadas podem ser criativos sim, pra quem pensou que eu estava falando o contrário. Esse post é mais sobre simplicidade eficiente nas guitarras atuais que sobre criatividade.
- Os caras das guitarras simples podem ter momentos complexos também. Só que esses momentos não são a maior parte da sua obra.
- Os caras das guitarras simples ENTENDEM, SIM, de música. Tá, não necessariamente todos, mas a grande maioria sim. Senão, não teriam conseguido imaginar esses tais riffs tão fáceis que qualquer um podeira fazer mas nos quais ninguém tinha pensado antes.
--- Eu não quero dizer que um tá errado e outro tá certo. Só tou mostrando um ponto-de-vista. Por isso mesmo. Nesse caso, a simplicidade criativa importa muito. Mas no final das coisas, o que importa é o amor.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

The Strokes - "First Impression of Earth"

Desculpa se isso ficar muito longo!



Os Strokes são hoje, pra mim, uma das melhores bandas em atividade no mundo. É.

Aí eles lançaram o First Impressions of Earth, terceiro disco deles, no comecinho de 2006.
Eu, que estava começando a viciar na banda, comprei o meu logo (mais pra frente eu vou explicar porque foi uma ótima escolha ter comprado - e não baixado - esse cd). Ouvi e foi amor à primeira escuta. Mas teve gente por aí que não gostou muito dele não, e fala isso até hoje. Falam que esse disco não tem mais a essência dos strokes, que não parece o Is This It
(primeiro cd da banda), e bla bla bla.
Tá, tudo bem, tem gente que não gosta porque não gostou mesmo. Mas sei lá, eu não acho que tenha perdido a essência ou coisa do tipo. O que aconteceu foi, na minha opinião, um aumento de complexidade nas músicas (tanto na gravação quanto no conteúdo). E qualquer um que já ouviu os primeiros dos Strokes e ouve o FIOE (vou chamar assim pra economizar teclado) percebe o que tá na cara: o FIOE é mais rockão! (Pra quem leu meu último post, sobre o dia do rock e tal, não pensa que eu tou me contradizendo aqui, querendo definir e rotular, é que eu usei o termo rockão pra falar que é mais pesado, mais nervoso, mais encorpadão!) E talvez isso tenha incomodado fãs mais saudosistas, que queriam a mesma sonoridade pra sempre. Sei lá. Eu gosto de todos os 3 cds. Acho realmente muito bons. Tenho o Room on Fire e o FIOE. É a mesma coisa que o Metallica. Os caras têm uns 2138 cds, e tem fã que quer que todos eles tenham o mesmo som, o do primeiro (Kill 'em All). Eu acho legal que mude, gostei do cd sem solo, gostei do som da banda ter ficado muito (mas muito mesmo) mais grave que de início. MAS voltando aos Strokes...
Como eu disse, comprei o cd. E ouvindo tudo que eu pude deles, percebi que esse cd se tornou o meu favorito. Da banda e quem sabe do mundo! (fora o exagero, por um tempo foi sim, hoje eu já não sei mais qual ocupa esse posto). E de tanta coisa que dá pra falar (daí o aviso inicial, porque tem mita coisa pra falar e também porque eu não me canso de abrir parêntesis) eu decidi dividir a análise dele em 3 (três) partes. O Som, O Conteúdo e o Projeto Gráfico.
Vamos a elas:

O Som

- OUÇA COM FONES, se possível, é muito melhor, tem muitos detalhes a mais -
Começa a primeira música, You Only Live Once, e a introdução parece I Want to Break Free, do Queen! É! Eu não sei se só eu achei isso, mas põe aí pra tocar e tenta cantar a do Queen, vai dar certinho! Tá, mas aí o Julian começa a cantar e a música se torna Strokes mesmo. Só por ela já dá pra perceber que a coisa já tá mais pesada. Bom, aí pra quem não percebeu, o CD vai evoluindo, a segunda faixa já é Juicebox. Soco na boca! Não tem como. Strokes nunca teve tanto baixo e tanto peso. É bem forte mesmo, com uma pegada bem menos garage-rock como os primeiros cds e bem mais... hm... rockão. Riffs de guitarra fáceis e grudentos (não é ruim. isso quer dizer q vc fica cantarolando eles pro resto da sua vida), e aquele vocal de bêbado insano que só o Julian faz e todo mundo adora. Segundo o Marcon, Juicebox é a música mais empolgante do mundo! Aí vem Heart in a Cage, que eu também gosto muito, com guitarras mais altas que nunca, bateria quebrando tudo, aquele caos. Ótima música com um belo clipe. Depois, Razorblade, com guitarras e bateria excelentes, e um som divertido mas ainda pesado. Depois, On The Other Side. Mais calminha, pro cara não ter uma parada cardíaca. Lembra um pouco mais os primeiros cds. Em seguida, Vision of Division, que retoma o peso. Depois do refrão, rola um solo com uma cara egípcia e tudo o mais. Muito diferente e legal. É legal ouvir as guitarras (principalmente no fone esquerdo) que entram e saem rapidinho. Aí vem Ask Me Anything. Uma das músicas mais interessantes do cd. Nem tem bateria, Nem é pesada, nem nada. É o Julian cantando uma melodia bonita, uma distorçãozinha fazendo um riff legal no fundo, tudo calminho. É bem legal ouvir isso no meio do cd. Quebra o peso de um jeito que funciona. Depois, outro lembrete de que o cd é pesado: Electricityscape. Guitarra alta, riff muito bom, bateria bem empolgada, refrão forte. Tem um quê futurista que eu não sei explicar. Em seguida, Killing Lies. Um pouco mais calma e repetitiva. A música é quase a mesma coisa o tempo todo. A bateria dela é bem legal, e o vocal também, que alterna entre o perigo de overdose e uma força inesperada. Solinho gostoso no meio. “Bonitinha”, pra esse cd. Próxima: Fear of Sleep. Também não é das mais empolgadas e fortes, mas dá uma empolgada no final do refr
ão, o Julian grita bastante e tal. Aí tem 15 Minutes. Uma das músicas mais diferentes do cd. Começa baladinha, depois pega uma levada quase punk e depois empolga muito (mas muito mesmo!). É interessante nessa música a parte da letra em que o Julian canta frases com os números de 1 a 12, todas envolvendo a vida musical da banda, eu acredito. Acaba essa música e vem a melhor música do cd, quiçá do universo! Ize of the World. É meio inesperada no cd. Tem uma cara diferente. No refrão, os versos parecidos (todos terminados em “ize”, explicando o título) reforçam essa cara repetitiva da música. Quando o refrão está no auge da empolgação a música "quebra" e o ritmo acalma. Tem um solo bem bonito de guitarra, e a música volta no estilo de seu começo. E é nessa hora que há o verso mais incrível do cd, quiçá do universo! And I am a prisoner to instincts or do my thoughts just live as free and detatched as boats to the dock? Aqui, do nada, o Julian começa a cantar mais alto e mais alto e mais alto e acaba gritando muito alto! E a música normal, na levada dela! Incrível. E aí a música tem outro refrão, no qual no último verso a música simplesmente pára! É, ele tá cantando, a banda tá tocando, aí silêncio absoluto, do nada! Não dá tempo nem de ele acabar de falar a última palavra. Juro que eu pensei que fosse defeito no meu cd! Essa música vale a pena ser ouvida. Depois, pra dar uma acalmada no surto psicótico que vc tá tendo depois de Ize, vem Evening Sun. Bem calminha, estável, segura. É quase dormir depois de um dia difícil. Cai bem para o momento, e tem uma melodia bem bonita. O Julian nem grita! Guitarrinhas cuti-cuti, sem distorção. Baladinha boa. Depois, Red Light. Novamente, mais agitada. Tem a batida de bateria mais viciante do cd, riffs que as guitarras fazem em dueto (com uma deslocada um pouco acima na escala), a voz bem encaixadinha na música. Não é exatamente pesada. Depois, fica até meio dedilhada, com uma melodia bem legal. Aí acaba. É, o cd. É triste, mas ele acaba.


O Conteúdo

Desde o começo eu achei um título interessante. Pô, "Primeiras Impressões da Terra". Por que? Primeiras impressões de quem? De um E.T.? Sempre achei que as letras dariam algum sinal. Nunca percebi, no entanto. Uma história triste.

Aí hoje eu tava organizando certinho o que eu ia escrever aqui, e me veio uma idéia totalmente nova (pra mim): Uma pessoa! É, aí o disco seria feito de pensamentos aleatórios. Pontuais e sintéticos, feitos por uma pessoa que não necessariamente nasce no começo do disco e tá velha no final dele, mas um pessoa que viveu na Terra e escreveu observações das diversas fases da vida. Isso faz bastante sentido, ouvindo as músicas, lendo as letras, e (depois) vendo o encarte. Por exemplo, You Only Live Once fala justamente “só se vive uma vez”. Quanta gente já não falou isso e ainda vai falar? O cd começa com essa espécie de conselho, o que reforça a interpretação das próximas impressões. Desperta a vontade de viver e entender a vida (e o cd). Heart in a Cage pode ser o abandono do lar, a pressão de estar crescendo e virando adulto (o clipe também reforça isso). E tem o seguinte verso “See I’m stuck in a city/ But I belong in a field”, Estou preso na cidade mas pertenço ao campo. Uma coisa meio “não quero ir, não sou daqui”, todo o estranhamento. On the Other Side é meio sobre a tristeza, sobre os momentos difíceis, e até a raiva. Mas tem um pingo de esperança. No início da letra, há Nobody’s waiting for me on the other side. (Ninguém está me esperando do outro lado) E no final, I Know you’re waiting for me on the other side. (Eu sei que você está me esperando do outro lado). Fear of Sleep: O medo, que todo ser humano cedo ou tarde, de um modo ou de outro, sente. 15 Minutes eu pensei que fosse sobre fama ou coisa assim, mas lendo de outra forma, pode ser simplesmente sobre a euforia e as festas da vida! Até sobre a Música. Ize of The World seria a visão do caos do mundo, por uma pessoa que está associada a uma rotina de vida. A dificuldade de parar pra pensar, ver e tentar ajudar esse mundo enorme e conturbado. Evening Sun me parece mais uma representação do final da vida. Coisas que um velho diria aos mais jovens, conselhos e constatações. Red Light parece falar sobre as relações com as pessoas e um pouco sobre a mídia (mais para o final da música). Mas o que é interessante mesmo nela é a última frase, profética: “The sky is not the limit and you’re never gonna guess what is...” (O céu não é o limite e você nunca vai adivinhar o que é...) Isso remete a tudo. Aos limites que são presentes em aspectos de todas as partes da vida : O amor, o sucesso, a tecnologia, qualquer coisa. Até mesmo a morte. Ou até mesmo (e essa é boa pros fãs) a trajetória da banda.


O Projeto Gráfico

É por isso que eu fico feliz por ter comprado o CD original. Além, logicamente, de o CD oferecer uma qualidade de áudio IMENSAMENTE maior que o mp3, o encarte desse cd é demais! É lindo, cada música tem duas páginas só para ela, e cada uma tem um tratamento visual diferente. Como eu quero compartilhar isso com quem eu puder, scaneei todas as páginas de músicas do encarte pra mostrar aqui! Além de ser um belo trabalho visual, o encarte conta com um surpresa! Cada música tem uma mensagem escondida em algum lugar de suas duas páginas. E essas mensagems parecem anotações ou constatações (ora obviamente relacionadas à musica da página em que estão, ora de assimilação mais abstrata), o que reforça de novo o título do CD.

As imagens estão aí! Boa sorte com as mensagens! Pra quem não achar, ou estiver muito difícil de ler, as respostas estão nos comentários desse post!



É isso. Acabou! Assim como o cd uma hora tinha que acabar, esse tópico já tava passando dos limites! Espero que tenham lido e gostado, e que isso tenha despertado o interesse, pois é um dos melhores cds que já ouvi, e apesar de qualquer coisa, vale a pena ouvir (e ver) pelo menos uma vez!


Foi mal, ficou bem longo mesmo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Kid 17

Diz a lenda que se ao terceiro rugido do leão da Metro-Goldwyn-Mayer, na abertura d'O Mágico de Oz, for dado play no The Dark Side Of The Moon, do Pink Floyd, o disco soará como uma trilha musical para o filme, tanto pelas melodias quanto pelo conteúdo das letras. Esse é o mais clássico exemplo do ponto a que pode chegar a criatividade de fãs pelas bandas que admiram. Mas nesse post é outra lenda que nos interessa.
A lenda sobre a qual estou falando envolve outra banda, também inglesa como o Pink Floyd, o Radiohead.
Kid A, disco lançado em 2001, é conhecido pelas sonoridades pouco convencionais que tem. Nele a banda abusa de vozes distorcidas, sintetizadores, baterias eletrônicas e quase não sobre espaço para guitarra, bateria e demais instrumentos comuns que eram usados nos discos anteriores.
Aí alguém algum dia teve a idéia de botar o Kid A pra tocar, esperar 17 segundos e botar outro Kid A pra tocar. Aí surgiu o Kid 17.

Como não pretendo analisar melodias, letras, nem nada sobre o album original, apenas falar sobre a experiência de tocá-lo com ele próprio tocando junto, vou comentar faixa a faixa.

01 - Everything in it's Right Place
Essa música originalmente já tem várias vozes de Thom Yorke sobrepostas, no Kid 17 isso se intensifica. O duplicação do piano também ajuda a aumentar o clima denso da música, em alguns momentos em que gera intervalos mais dissonantes e com ritmo quebrado.

02 - Kid A
Nessa a coisa fica mais interessante, o piano que faz a melodia principal da música fica sincronizado com a sua cópia, a bateria também, a música flui muito bem e as vozes robotizadas só se cruzam em uma ou duas frases, na maioria do tempo um canta entre as frases do outro.

03 - The National Anthem
O instrumento mais marcante em The National Anthem é, sem dúvida, o baixo. E é justamente o baixo o único instrumento que fica sincronizado quando a música é tocada no Kid 17. A linha principal se preserva e continua se destacando na música. A voz, assim como na faixa anterior, encaixa os versos de um cd entre os versos do outro. Os solos de sopro, que já tem um tom caótico normalmente, ficam ainda mais confusos. E a bateria vira uma loucura.

04 - How To Disappear Completely
A letra de How To Disappear Completely é como um mantra, as frases se repetem várias e várias vezes. No Kid 17 a duplicação dá uma impressão de conversa, como se um disco respondesse a cada frase do outro. Apesar da letra não combinar com uma conversa, continua sendo um efeito bem interessante.
A bateria não fica sincronizada, mas ao contrário de National Anthem, soa bem, e a melodia também não causa tanto estranhamento.

05 - Treefingers
Treefingers é instrumental, sem percussão, cheia de notas longas e que se misturam. Duplicada, continua soando assim, nem parece que tá sendo tocada desse jeito. Alguém desavisado acreditaria se você dissesse que a música é asism mesmo.

06 - Optimistic
Essa é a única que não funciona. As guitarras misturadas até resultam em coisas legais de vez em quando, mas as vozes se atropelam, o ritmo das baterias fica muito estranho. Nas partes mais pesadas esse embolo até gera alguma coisa bacana, mas essa é mesmo a menos interessante.

07 - In Limbo
Aqui vale o mesmo que para Everything in it's right place, a música normalmente já tem várias vozes sobrepostas e isso se intensifica. A guitarra dedilhada as vezes se encontra com a sua duplicação e fica legal também. A bateria, que é cheia de viradas, fica meio confusa.

08 - Idioteque
Idioteque é a melhor música do Kid A, e também a melhor do Kid 17. As batidas eletrônicas que conduzem a música se sincronizam e em alguns momentos criam ritmos diferentes. As vozes também batem e cantam alguns versos juntas, em outros momentos, cantam versos diferentes ao meso tempo. Isso já existe na música original, então em alguns momentos thom canta quatro ou cinco coisas ao mesmo tempo. Perto do final, numa passagem instrumental da música, as batidas se combinam num ritmo mais quebrado que o da música original. Por essa música já vale a pena ouvir esse tal de Kid 17 (assim como por ela já vale a pela ouvir o Kid A).

09 - Morning Bell
Quando você ouve Idioteque no Kid17, você pensa que foi a partir dela que o inventor disso teve a idéia de fazer com o disco todo. Mas quando você ouve Morning Bell você já muda de idéia.
As baterias batem literalmente ao mesmo tempo, ou seja, soam como uma só, com mais volume. As vozes se complementam, assim como os outros instrumentos. Soa como se fosse uma música só.

10 - Motion Picture Soundtrack
A última música infelizmente não fica tão legal quanto as duas anteriores, então você acaba lembrando, antes dos discos acabarem, que é só uma dessas invenções de fã mesmo. Mas ainda tem coisas legais sim, as bases melódicas e os arpejos no piano ficam num clima ainda mais etéreo do que no original. A voz é que fica num ritmo esquisito.


No fim das contas, se você é fã do radiohead ou gosta dessas lendas malucas, eu acho que vale a pena sim ouvir o Kid 17 e ver o que você acha. Se precisar de uma justificativa, lembre-se que o album fala sobre o primeiro clone humano (o Kid A), e que é cheio de esquisitices mesmo, como o encarte "secreto", que vem debaixo da parte em que se encaixa o cd.
Já se você não gosta dessas lendas ou não é tão fã do Radiohead assim, vale a pena ouvir pelo menos Idioteque.
Claro que hoje em dia você não precisaria ter dois sons e duas cópias do cd para matar sua curiosidade sobre a lenda, alguém já sincronizou os arquivos e espalhou pela internet. Você pode baixar aqui, no ótimo blog Pendurado para Secar.
E, antes que alguém venha questionar minha sanidade, eu quero deixar claro que não acredito que a banda tenha feito o disco pensando nisso.


domingo, 13 de julho de 2008

13 de Julho - Dia do Rock

Poisé!
Hoje, domingo, 13 de Julho. Dia internacional do Rock.

Eu tinha que escrever alguma coisa aqui, afinal se não fosse o rock, esse aqui talvez nem existiria.

Como não tinha nenhuma análise de CD ou artista ou qualquer coisa na manga, tive que improvisar! (é um jam-post, pros piadistas de plantão)

Bom, começando pela imagem aí.
Fui no google, google imagens, deviantArt, e digitei "rock n roll" pra ver se vinha alguma coisa bonitinha pra eu ilustrar esse post. Até que vieram umas coisas interessantes, mas elas era muito específicas e tal. E eu queria uma coisa mais simbólica, mais sintética. Aí isso foi uma coisa que eu sempre pensei: Se tem um instrumento que deve ser o símbolo do rock, qual é? Aí eu sempre ficava entre a guitarra e a bateria. (pelo amor de deus, baixistas do mundo, não achem que eu estou desmerecendo o baixo, instrumento pelo qual eu tenho um verdadeiro vício. É que - devemos observar - a guitarra é mais expressiva, falando em rock. [Já no Jazz, eu sempre fico entre a bateria e o baixo!]) Aí, voltando ao assunto, como eu sempre toquei mais guitarra que bateria, puxei pro lado pessoal mesmo e aproveitei que já tinha essa silhueta aí - de uma Fender Stratocaster (modelo que foi consagrada, entre tantos outros, por Jimi Hendrix e Eric Clapton. Essa aí é uma do John Mayer) - que eu fiz um dia.

Eu não vou ser tonto de me meter a tentar definir o rock ou coisa do tipo. Isso é muito muito muito arriscado, e sempre que alguém faz, dá merda. Porque tudo é rock! Led Zeppelin é rock, Beatles é rock, Strokes é rock, Radiohead é rock, Rock brasileiro dos anos 80 é rock, Pato Fu é rock, Jorge Ben é rock, Gabriel o Pensador é rock, pop-rock é rock, tem funk que é rock, tem samba-rock, e aí vem o emo falando que faz rock... e é rock sim! Tudo é rock!
Sei lá. O Rock também só é o que é (um nome universal) por causa disso. todo mundo faz o rock, e o rock permite que ritmos regionais sejam incorporados. Acho que tudo pode receber um "-rock" no final. É só ver o caso dos Virgulóides (é, é, é, eu acho que o bagulho é de quem tá de pé, eles mesmos), que misturam pagode e rock, e dá certo!

Dentre tudo isso, vou analisar minha trajetória pelo rock, e não é pra me exibir não, é porque eu acho que cabe bem pro meu caso falar que o cara que gosta de rock gosta e sempre vai gostar, não importa como!
Começou quando eu era criança ainda, em tempos que eu afirmava ferrenhamente não sei porque) Eu nunca vou gostar de rock. Tolinho. Falava isso mas já ouvia Jorge Ben. Até que um dia a minha mãe comprou - pra ela - o CD que mudou a minha vida: Titãs - Acústico. Não teve como. Comecei a ouvir e gostei na hora! Lembro que eu adorava Marvin e Comida, pra não falar tantas outras desse CD que considero um dos melhores até hoje. Aí comecei a me aprofundar em titãs. Naquele tempo também afirmei, iludido, Ainda vou ter todos os CDs dos Titãs! Nunca consegui, infelizmente. Aí, outra coisa inevitável. Pelos Titãs fui conhecendo as outras bandas de rock brasileiro dos anos 80. Principalmente Paralamas, Ultrage, duas que também são paixões até hoje, Legião - que na época viciei muito também - e Barão. Bom, aí fui ouvindo. Mais tarde, comecei a gostar também do Raul Seixas (que também não tem como, né, é ouvir e gostar). Aí, não sei como, descambei pro rock internacional. E nessa fase, escolhi o punk-rock "moderno", pra aquela época. O que tocava daquilo era Offspring e Green Day. O Offspring foi um grande vício também, tenho vários CDs deles, gosto muito de todos! Aí meio junto com isso, virei metaleirinho. Criei uma paixão incondicional pelo Metallica (que gosto bastante até hoje) e curtia ouvir umas coisas mais pesadas. Nunca gostei de Iron Maiden, devo dizer. Aí disso fui caminhando, devagar, pra outras coisas. Durante tudo isso, fui gostando de umas coisas que não se enquadravam tanto em épocas. Teve uma mini-época Classic-Rock, com principalmente Led Zeppelin (amor de vida toda) e Deep Purple, e também teve o blues no meio das coisas, sempre. Eu sei, o post é sobre o rock. Mas o que seria dos primeiros rocks sem o blues, não é? Nisso, eu estava saindo do colegial, indo pro cursinho e depois pra faculdade. Foi a época da mudança de mentalidade. No cursinho fui apresentado a Los Hermanos e comecei a gostar do Rock "alternativo" atual. Isso aí só aumentou - e muito! - na faculdade. Aí, os ícones pra mim eram Strokes, fora do Brasil, e Los Hermanos, aqui dentro. Nessa época voltei a ouvir mais o Pato Fu, que é a banda da minha vida (ganhei um cd quando era pequeno ainda, o Tem Mas Acabou, viciei na hora e nunca mais parei)! Não sei, abri um pouco a cabeça pro rock nessa época (há uns três anos). Ouvia, além desses que acabei de falar, White Stripes (Jack White é rei!), Franz Ferdinand, etc. (Não dá pra falar ao certo desses ultimos acontecimentos usando os verbos no passado, porque estou no meio da faculdade e tem coisa que ainda estou começando e deixando de gostar) Bom, foi na faculdade também que - não sei como foi possível ter demorado tanto - comecei a gostar dos Beatles. E eles realmente foram demais. Demais mesmo. Não vou me exceder porque dá pra falar mols de linhas sobre eles. Aí também descobri o Teatro Mágico, a Nação Zumbi, o Tom Zé, os Mutantes, o Radiohead, o John Mayer, e umas coisas que são até atuais demais pra saber se são acontecimentos marcantes ou passageiros na minha vida musical (sobre esses últimos, quem sabe eu possa falar melhor, que nem eu fiz com as primeiras bandas, mais pra frente, quando esse blog tiver uns 5 anos e reconhecimento mundial. Aí vai estar na hora de eu olhar pra trás e falar isso, isso e aquilo).

E ainda estou descobrindo as coisas. E não quero parar.
É isso aí, feliz dia do Rock pra você!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida

Os Mutantes lançaram Mutantes e Seus Cometas No País do Baurets, seu quinto disco, em março de 1972. Mas não é dele que este post se trata.

O caso é que ainda no ano de 72, foi aberto em São Paulo o primeiro estúdio de 16 canais do país. E Os Mutantes, sempre interessados em tecnologias musicais e tudo mais que pudessem experimentar em sua música, logo quiseram gravar lá.
A gravadora não estava muito disposta a bancar outro album do grupo para aquele ano,
mas havia interesse numa carreira solo de Rita Lee, então a gravação foi liberada desde que fosse creditada a Rita, e não à banda. Assim, ainda no mesmo ano, Os Mutantes lançam, com o nome de Rita Lee, Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida

Como o disco saiu no nome de Rita, é ela que canta todas as músicas (não sozinha); no album anterior dos mutantes, o baurets, das 10 faixas do disco apenas duas eram cantadas por Rita (Vida de Cachorro e Rua Augusta).
Na época, além de insatisfeita por cantar poucos no album dos mutantes, Rita também não estava muito feliz com os rumos progressivos que a banda andava tomando (no ano seguinte Rita deixaria o grupo, de maneira conturbada e até hoje mal explicada). Mas nessa gravação os mutantes se parecem um pouco mais com os dos primeiros discos.

As músicas do álbum são:
1 - Vamos Tratar da Saúde
2 - Beija-me, Amor
3 - Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida
4 - Teimosia
5 - Frique Comigo
6 - Amor em Branco e Preto
7 - Tiroleite
8 - Tapupukitipa
9 - De Novo Aqui Meu Bom José
10 - Superfície do Planeta

Há humor na maioria das faixas, e também amor, num tom não muito lírico e meio descompromissado - A faixa-título diz "hoje é o primeiro dia do resto da sua vida e da minha também, então sente no meu colo".
Mas a característica mais interessante do disco é mesmo a experimentação dos mutantes no estúdio. Durante o disco há conversas deles no estúdio, pensando o que fazer ali (como a sugestão de gravar 4 vozes em cada um dos 16 canais, totalizando 64 vozes simultâneas), e muita coisa se percebe nas músicas mesmo.
Em quase todas as faixas há distorção na voz, ecos longos e várias vozes sobrepostas.
Em Beija-me Amor, Sérgio Dias, em talkbox (talkbox é um efeito de guitarra onde a voz do prórpio guitarrista dá a intensidade da distorção e do efeito. de acordo com os sons feitos pela boca do músico, as notas que estão sendo tocadas ficam diferentes) canta versos que haviam sido retirados pela ditadura ("... para que eu sinta a saliva e o gosto do cuspe escorrendo entre os dentes meus" - enquanto rita canta "para que eu sinta seu gosto mesclado com o gosto de amor mastigado entre os dentes meus"); Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida começa com sons de caixinha de música; Teimosia tem percussão que parece uma bateria de escola de samba; Amor Em Branco e Preto (uma declaração de amor ao Corinthians) tem trechos de narração de futebol enquanto a música toca, De Novo Aqui Meu Bom José tem mesmo 64 vozes, e por aí vai.
Fora isso, as vozes ficam indo da direita pra esquerda muitas vezes (como quando Rita diz "ver você do lado de lá" e "agora sou do lado de cá", por exemplo) e alguns instrumentos também. Outra característica marcante é baixo Rickenbacker de Liminha, sempre muito alto em todas as músicas.

As letras do album são, na maioria, tiração de sarro. Tapupukitipa têm os mutantes imitando índios, Tiroleite é um retrato de quem foge da cidade pra curtir a natureza, Frique Comigo aconselha: "Cê tem que ser maluco" e De Novo Aqui Meu Bom José ironiza a lírica José, que Rita havia gravado em seu primeiro disco solo, Build Up.

Porém, no final do disco a coisa fica séria. Superfície do Planeta, a última canção, única do disco assinada só por Arnaldo Baptista (todas outras são parcerias variadas entre Arnaldo, Rita, Sérgio e Liminha), é daquelas que valem um disco sozinhas. Arnaldo fala sobre o dia em que os discos voadores chegarão e trarão a verdade, "a voz de Deus / que ensinará a música / que nos dará a terra", e diz "vocês irão ver, vocês irão crer". Profético.
Daquelas conversas de estúdio que apareceram disco, surge uma frase no meio da música: "Presta atenção na letra"
Além da letra, vale comentar os vocais, Rita sussurra os versos, Arnaldo grita os refrões. E também o instrumental, sempre destaque nos mutantes. O Baixo continua muito presente, a bateria faz viradas que colaboram com tom épico. Teclados simulam os sons dos próprios discos voadores, e Sérgio faz uma das linhas de guitarra mais legais da carreira dos mutantes.

Antes de acabar o disco, depois da última canção, há ainda a última inserção de falas de bastidores, uma pergunta simples de Cláudio César Dias Baptista, irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio, que entre outras coisas, construiu a guitarra de ouro e operava as mesas de som nos shows da banda. É com essa pergunta que acaba o disco, e também esse post.

"Cê entendeu?"

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Móveis Coloniais de Acaju - "Idem"





É, o CD de início da banda poderia se chamar "Móveis Coloniais de Acaju", mas na saída criativa foi a mesma coisa, só que mais original.
E eu NÃO consigo parar de ouvir esse CD! Letras originais e bem-humoradas, com muitas e muitas pérolas ("Quem era foda, se food." de E Agora, Gregório?, música que estou ouvindo nesse exato momento), e construções inteligentes, como é o caso da parte final de Perca Peso, primeira faixa, onde afirmações feitas antes são distorcidas e ganham novos sentidos (é chato explicar piada, mas às vezes é preciso!).
Fora as letras, as instrumentações! A formação oficial é:
  • André Gonzáles (voz)
  • BC (guitarra)
  • Beto Mejía (flauta transversal)
  • Eduardo Borém (gaita cromática, teclados e escaleta)
  • Esdras Nogueira (sax barítono)
  • Fabio Pedroza (baixo)
  • Leonardo Bursztyn (guitarra)
  • Paulo Rogério (sax tenor)
  • Renato Rojas (bateria)
  • Xande Bursztyn (trombone)
Como pode se perceber, pela grande quantidade de sopro nesse povo todo, há todo um tom jazz em várias músicas, como Sado-Masô, mas a banda nunca abandona o agito da música brasileira, o que garante a diversão e a graça da coisa toda. A guitarra tem voz alta na banda, com linhas muito boas, o baixo se sobressai várias vezes, a bateria é rápida e lembra marchinhas, muitas vezes. O som é divertido, é fato.
E se o som já é divertido, só quem foi a um SHOW dos móveis sabe o que é diversão. A eminência da morte em cada trombada que os integrantes, que não param de pular um segundo que seja, dão o tempo todo! Ainda mais quando os envolvidos têm saxs e trompetes em mãos! É até bonito de ver, aqueles instrumentos de metal passando perto das cabeças e tal... Aquela música agitada e divertida, que levanta o público, mais a banda em que todos (fora o baterista, coitado, que obviamente tem que ficar sentado - eu acho que se ele pudesse tocar bateria em pé e andando, com certeza entraria pro bolo) ficam fazendo "rodas punk" ao som do seu ska, garantem um belo show! É tipo Teatro Mágico, só que menos espetaculão e mais zoeira e comédia, principalmente na imperdível imitação de serpente subindo de André Gonzáles, o cantor mais animado que o mundo já viu.

O CD tem as seguintes faixas:
  1. Perca Peso (a terceira metade do meu estresse)
  2. Seria o Rolex? (ego e latrina)
  3. Aluga-se-vende (sujeito a mudanças)
  4. Copacabana (devaneios de um cubano cubista)
  5. Menina-moça (a receita que Ofélia não ensinou)
  6. Cego (registros de uma inspiração alheia)
  7. Esquilo não samba (o triste e recorrente medo de:)
  8. E agora, Gregório? (metamorfossa)
  9. Swing hum e meio (o homem, a verdade e a castanha)
  10. Do mesmo ar (pra não fizer que não somos melosos)
  11. Sadô-masô (a vida é tão fácil para quem não a vive)
  12. Receio do Remorso (remorso do receio)
Além dos excelentes subtítulos das músicas (compreendidos bem melhor ao ouvir as músicas), o CD é consistente, na minha pequena opinião. Se mantém. Dá pra ouvir fácil numa sentada! Recomendações? Bom, no momento, o CD todo! Mas pros preguiçosos, Perca Peso! Fora o trocadilho insano que eu acabei de fazer, essa música já chega chutando tudo. Muito animada e com uma letra genial, vale a pena. Além dela, Aluga-se-Vende é (um pouco) mais lentinha e melodiosa, muito bonita (o sopro dessa, em particular, me lembra mais Los Hermanos que o resto do CD) e Copacabana, com uma letra surreal e exagerada, muito boa. Esquilo não Samba também é muito boa, a letra "carta do futuro" e o tom triste-divertido da música se destacam. Mas mire-se no exemplo deles e não seja preguiçoso. Ouça inteiro!