domingo, 1 de março de 2009

Os Melhores de 2008

Olá!
Há muito tempo não posto aqui, que vergonha!
bom, esse post de retorno é o seguinte:

O Marcon fez, no final de 2008, um top10 com os melhores discos do ano, na opinião dele. Na hora eu falei “Nossa! Preciso fazer um também!”. Desse dia em diante fiquei pensando e tentando organizar um top10. Agora é primeiro de março e eu ainda não consegui. Então tive outra idéia:
Vou listar aqui os melhores discos de 2008. Sem ordem e numeração necessária. No fim das contas são 12 (que eu estava tentando reduzir a 10, mas pra quê, né? hehe). Logicamente, entre o que eu mais gostei e o que eu menos gostei tem um grande salto. Só que em vez de organizá-los um a um, me encarregarei de comentar quando a “colocação” do disco em questão for relevante.
Vamos a eles! (Alfabeticamente, por artista!)

tudosetorna 1/2 Dúzia de 3 ou 4 - Tudo se Torna
Como a própria banda definia em sua comunidade, MPB não tão P mas muito B. Com um som moderno, irreverente e bem bonito, inspirado em mestres da música brasileira, como Tom Zé (que inclusive é homenageado com uma faixa sobre ele), lançaram seu álbum de estréia, Tudo se Torna (inclusive com estratégias de marketing interessantes), agradando a muitos. Pra quem gosta de MPB original e criativa, é essa a pedida! Vale dizer que além da música que se ouve, são grandes músicos e pessoas incríveis. Ouça, os ornitorrincos agradecem.
Recomendo: Sem Pedir Licença, Samba da ONG (e você entenderá os ornitorrincos), Nefilibata, Sabe Vó.

albert_hammond_jr-como-cover Albert Hammond Jr. - ¿Cómo te Llama?
Em seu segundo disco, o guitarrista dos Strokes prova que também sabe fazer som sozinho. Pra mim, melhor que o primeiro, que tem um som mais “quadradinho”, esse cd tem uma sonoridade diferente e agradável. Quem canta é o próprio Hammond, com uma voz bem característica. Como já é de costume, seus riffs são muito marcantes e eficientes nas músicas, e os arranjos (que não lembram sempre Strokes, mas sim Red Hot Chilli Peppers e até Pink Floyd – no comecinho da primeira música) são ora experimentais e ora mais clássicos, vale a pena ouvir. Esse álbum também tem a música instrumental que deve ter me chamado mais a atenção em 2008.
Recomendo: In My Room, Victory At Monterey, Spooky Couch (a tal da instrumental. Linda!), Feed Me Jack Or: How I Learned To Stop Worrying And Love Peter Sellers.

coldplay-viva-la-vida-or-death-and-all-his-friends Coldplay - Viva la Vida
Eu nunca fui muito de ouvir Coldplay. Aí deu vontade de baixar esse álbum quando lançou. Inclusive por causa da capa, que eu achei bem bonita. Ouvi e me agradou. Bastante. E eu já ouvi gente falando que não tá tão bom quanto era antes e coisas do tipo. Mas eu achei um som bonito, maduro. Com músicas que pendem pra um clima meio fantástico, no sentido místico da coisa, ao meu ver. Não tenho muito o que dizer desse álbum por não ter muito conhecimento sobre a própria banda. Mas ele me acompanhou por muitas tardes, isso basta.
Recomendo: Cemeteries of London, 42, Viva la Vida, Violet Hill.

art-cover Conor Oberst - Conor Oberst
Esse foi o ponto bom de ter demorado pra fazer essa lista. Um disco de 2008 que eu descobri em 2009. E já me convenceu a incluí-lo aqui!
Um quase-folk-meio-blues com a voz legal que esse cara tem, é bom pra ouvir em quase qualquer momento. Tem músicas mais bonitonas mesmo e outras mais agitadas, mais pro blues. Algo que se diaz sobre Conor é que suas letras são bastante adultas. Eu devo confessar que fiquei tão apaixonado pela musicalidade que ainda nem analisei as letras! Pra quem gosta de blues, folk, voz e violão às vezes, banda intera outras vezes, é muito bom!
Recomendo: Cape Canaveral, Get-Well-Cards, Danny Callahan, Eagle on a Pole.

little-joy Little Joy - Little Joy
A grande supresa de 2008. Se tivesse ordem, esse seria provavelmente o primeiro.
Formada por partes de duas das minhas bandas preferidas, Rodrigo Amarante dos Hermanos e Fabrizio Moretti dos Strokes, e complementada por Binki Shapiro, Little Joy se apresentou ao mundo como uma banda feliz, com um som despretensioso e valorizador do momento em detrimento de uma profunididade conceitual. Músicas tranquilas e bonitas, sempre com um clima bom e toques retrô. (Inclusive, já há uma análise desse álbum aqui no blog, no tópico “Los Hermanos, e o que veio depois”)
Além de ser música excelente, me pegou na hora certa. Não tem como evitar. É o som que 2008 revelou.
Recomendo: The Next Time Around, Brand New Start, No One’s Better Sake, Shoulder to Shoulder.

marcelo-camelo-sou-2008 Marcelo Camelo – Sou
Também já analisado anteriormente aqui, esse álbum não me pegou tão de surpresa como o Little Joy, por seguir, na minha opinião, algo que o Marcelo Camelo já vinha construindo nos Hermanos. Um apego pela múica brasileira, e por seus estudos de estilo. Conta com bossas, rockzinhos, marcinha de carnaval, baladinhas e músicas inrotuláveis, muito bonitas. Há, inclusive, um toque de música clássica em algumas das faixas, deixando-as diferenciadas.
Os arranjos me agradam muito, sejam eles mais ou menos densos. É um trabalho mais “difícil” de ouvir inteiro, mas vale a dificuldade quando acaba.
Recomendo: Tudo Passa, Janta, Liberdade, Copacabana.

mgmtcover MGMT - Oracular Spectacular
Fenômeno do eletrorock atual, ou seja lá qual for a definição mais exata pra música desses malucos, o MGMT vem em seu primeiro álbum ditando tendências. Utilizando tanto sons atuais quanto retrô, compõem músicas originais e chamativas, como a barulhenta Time to Pretend. Utilizam-se de uma gama ampla de sonoridades, e sabem usar muitos efeitos sem perder a sensibilidade de suprimí-los quando é melhor.
Além das tendências musicais, vale dizer que o modo com que se vestem (esse estilo de trapos, como se vê na capa do álbum) está sendo elogiado, e desfiles já foram feitos tendo-os como referência.
Recomendo: Time to Pretend, Weekend Wars, The Youth, 4th Dimensional Transition.

theageThe Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
A melhor definição desse aqui foi o Marcon quem me disse: Parece trilha de filme antigo. E é, não sei exatamente porque, me lembra algo de filmes e bandas antigas. Sim, o som realmente tem características bem retrô, como o canto em coro em muitas músicas. Outra coisa que colabora para essa sonoridade bem interessante é o arranjo das músicas, geralmente orquestradas, o que difere bem da sonoridade das outras bandas de Alex Turner (Arctic Monkeys) e Miles Kane (The Rascals).
E como se não bastasse tudo isso (ou talvez seja diretamente por causa disso), essa capa também passaria tranquilamente como um frame de algum filme antigo.
Recomendo: The Age of the Understatement, Calm Like You, My Mistakes are Made for You, Meeting Place

raconteurs_consolersThe Raconteurs - Consolers of the Lonely
Se essa lista tivesse ordem, este também estaria entre os melhores.
O segundo disco dos Raconteurs. Como se o primeiro já não tivesse diso incrível, pra mim este é o melhor deles. Pra mim está claro que eles são uma das melhores bandas de rock da atualidade. Mais uma pra categoria “começou com um projeto paralelo”. Pra quem não sabe, quem encabeça a banda é Jack White, dos White Stripes, e Brendan Benson dos Greenhornes. Os trabalhos da banda estão cheios de energia e criativdade. A alternância entre músicas mais agitadas e mais calmas é harmônica e os arranjos inusitados com os timbres sempre característicos de White aparecendo lá e cá garantem a experiência maravilhosa que é ouvir esse cd inteiro. Com certeza, um dos trabalhos que mais me encantou em 2008.
Recomendo: The Switch and the Spur, Many Shades of Black, These Stones will Shout, Carolina Drama.

51XBizvSjRL._SS500_The Ting Tings - We Started Nothing
Essa aqui me pegou de repente: Eu vi um clipe na mtv e baixei o CD. A música do clipe se tornou pra mim a ganhadora do prêmio “música mais grudenta” de 2008, That’s not my Name.
O duo faz um eletrorock (ou, novamente, o título que seja melhor pra descrever) bem menos experimental que o MGMT. We Started Nothing é fácil de ouvir, com poucos instrumentos, linhas simples e a voz característica (e bonita) de Katie White. Talvez por essa facilidade, esse álbum é tranquilo de ouvir, com músicas legais e dançantes, com momentos calmos que eu gosto bastante também.
Recomendo: That’s not my Name, Traffic Light, Shut up and let me go, We Walk

1054b4gTom Zé - Estudando a Bossa
É Tom Zé, né. E como diria meia dúzia de pessoas, Tom Zé é Pai.
Com mais um disco de sua série de “estudos”, desta vez para estudar a Bossa Nova (e homeageá-la, tendo sido lançado no ano em que esta completou meio século), Tom Zé, pra variar, fez música boa. Música que estuda outra mas ainda assim é original, e como se não bastasse, assim como os demais “álbuns de estudo” tem ali uma marca do gênio. É algo que se ouve e pensa “é Tom Zé, né?” e ainda “é bossa!” e ainda “que diferente essa música!”. Tudo isso ao mesmo tempo. Vai demorar pra estudar o Tom Zé. Grandes músicas, grandes parcerias, grande álbum.
Recomendo: João nos Tribunais, Síncope Jãobim, O Filho do Pato, “Outra Insensatez, Poe!”

  volume 1 2gvij9g Zeca Baleiro - O Coração do Homem Bomba
No maior projeto dessa lista de 2008, Zeca Baleiro, um dos artistas mais iluminados do Brasil atualmente pra mim, conseguiu fazer dois CDs de boa música. Seria triste fazer um só e deixar algumas de fora. O projeto é como Zeca: Uma diversidade enorme de ritmos, sonoridades e arranjos, que por mais diversos que sejam, são harmônicos entre si. É ouvir Zeca Baleiro de verdade, muita coisa junta sem perder o conjunto.
Um grande destaque desse projeto são as vinhetas. Cada disco tem algumas, geralmente de meio minuto ou pouco mais que isso, que “quebram o gelo” e dão irreverência ao trabalho. O primeiro volume, inclusive, começa com uma, que dá o nome ao projeto. Eu me pego cantarolando as vinhetinhas quase todo dia.
Como também é característica do Baleiro, há covers e releituras no projeto.
E o projeto não é só irreverência também. Tem músicas mais sérias e melodiosas, muito bonitas.
Por fim, atento às letras do projeto: Várias músicas são experimentações de estrutura de rima ou ritmo. Há padrões de rima em muitas músicas, e em tantas outras o ritmo das palavras nas frases é marcante. Tudo isso é Zeca Baleiro, e tudo isso não cabia só em um CD.
Recomendo: volume 1: Alma não tem Cor, Vai de Madureira, Ela Falou Malandro, Toca Raul. volume 2: Tevê, Na Quitanda, Pastiche, Débora. vinhetas: Aquela Prainha, “Aí, Beethoven”, Jesus no Cyber Cafe do Inferno.

E que venha 2009!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Pop Bastardo

Primeiro, veja esse vídeo:



Pois é, é 50 Cent cantando sua In Da Club sobre o intrumental de Dancing Queen, do Abba. Resultando no que o D.J. J-Stroke, autor da junção, chamou de Queen of Da Club.
A esse tipo de combinação de músicas se dá o nome de Mash up ou Bastard Pop, bastard porque a música acaba não sendo nem do 50 cent nem do abba, e imagina-se que não vai tocar no rádio e nem ser vendida em cds, apesar de conquistar muito espaço na internet e até em festas dedicadas unicamente a isso.

Porém, a idéia é tão boa que chega ao mainstream sim, como na MTV, onde o programa MTV Mash tinha programação dedicada a Mash Ups, como no exemplo abaixo: Hey We Will Rock You Ya, por Outkast+Queen



Outro exemplo aconteceu na festa do Grammy de 2006, quando Madonna, ao vivo, cantou sua Hung Up enquanto os Gorillaz tocavam Feel Good Inc., veja só:



Normalmente as músicas são feitas a partir de uma versão instrumental de uma música e uma acapella da outra, procurando no soulseek ou outro programa de compartilhamento, se encontra mais músicas acapella do que se pode imaginar. E pensar possibilidades de combinações é muito divertido, eu emsmo já tive umas idéias, mas não consegui editar as músicas ainda, quem sabe depois eu poste aqui.
Vão aí mais alguns exemplos, se interessar , procure no youtube memso, há uma infinidade lá.

Tom Jones + The Prodigy


M.I.A. + New Order


Green Day + Oasis


É isso, divirtam-se!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Adeus, ano velho!

Dezembro é aquele mês em que as pessoas ponderam sobre como foi o ano que está acabando, que os canais de TV passam suas retrospectivas destacando o que mais foi notícia, e que blogs como este, que falam de música, fazem listas de melhores discos do ano. Não tentarei dizer quais foram os melhores, tanto por nem ter ouvido tantos discos esse ano quanto porque, afinal, quem sou eu pra dizer o que é melhor que o que, né? Então essa lista tá mais para “Os discos que o Rafael mais curtiu em 2008” do que para “Os Melhores do ano”
In Rainbows, do Radiohead, fica de fora porque eu o considero um lançamento de 2007, apesar de só ter ido pras lojas em cd dia 01/01/08
Então aí vai a lista, do último ao primeiro lugar.

10 – Anywhere I Lay My Head – Scarlett Johansson


Em seu primeiro registro fonográfico, Scarlett Johansson, mais conhecida por seu trabalho como atriz, apresenta onze canções, sendo que dessas, apenas uma é original (Song for Jo) e dez são regravações, todas de Tom Waits. Eu não conheço as gravações originais, e até vi por aí fãs do autor reclamando do disco de Scarlett, mas gostei das versões da moça. O disco é todo levado em ritmo lento – exceto por I Don’t Wanna Grow Up, que faz lembrar que os Ramones já a regravaram antes – e em ambientação meio obscura, apoiada em longas notas de órgão. Isso faz com que nem sempre seja fácil ouvir os 45 minutos do album de uma só vez, mas se você estiver no clima certo, vai muito bem.

Destaques: A instrumental Fawn, que abre o disco, e Falling Down, com participação de David Bowie.

9 – Segundo Ato – O Teatro Mágico


Após alguns anos de espera e já sem alguns de seus membros originais, a trupe (como prefere ser chamada) de Fernando Anitelli apresenta seu segundo disco. Várias músicas já eram conhecidas de quem frequenta os shows da banda (não exatamente o meu caso) e só esse ano tiveram suas versões de estúdio lançadas, mas há também boas novidades.
Neste segundo ato, Anitelli trata em suas composições de temas mais sérios do que no primeiro lançamento. Aqui aparecem moradores de rua, trabalhadores explorados, televisão alienante, arte desvalorizada, e ainda algumas sobre comportamento e relacionamentos, todas bastante interessantes.

Destaques: Xanéu N°5, com Zeca Baleiro, e “...”, a faixa que fecha o disco e inclui uma música bônus.

8 – Save Your Soul – She Wants Revenge


Este é o único da lista que não é exatamente um álbum, e sim um EP (algo longo demais pra ser um single e curto demais pra ser um álbum), tem apenas 4 músicas, mas 4 belas músicas, então merece um lugar na lista.
A banda americana que ano passado mesmo lançou o também muito bom This is Forever, esse sim um álbum com suas 13 faixas, aparece agora no formato reduzido, e se dá muito bem nele. Com uma pegada menos sintetizada e eletrônica que anteriormente, os quase 18 minutos do disco revelam a banda em momentos ora mais pesados, ora mais melodiosos, mas sempre com a mesma empolgação de sempre.

Destaque: Save Your Soul, a faixa título.

7 – Consoler of the Lonely – The Raconteurs


Ao contrário do que muitos pensavam, os Raconteurs, banda que conta com Jack White, dos White Stripes, não era apenas um projeto paralelo de um disco só. Eles voltaram em 2008, com Consoler of the Lonely.
Aqui o senhor White não parece tão maluco como nos stripes – em que faz música de tourada e toca marimba – apesar de manter seus solos estridentes e seu timbre característico de voz. A banda apresenta bons rocks, às vezes com jeito de folk e blues, quase sempre com refrões marcantes e momentos em que as músicas crescem em arranjos grandiosos que contam com violinos, conjuntos de sopro, piano, além das tradicionais guitarras, baixo e bateria.
No geral, a banda de rock do Jack White, como o Jão costuma chamar os Raconteurs, parece mais uma banda madura e menos um projeto paralelo.

Destaques: The Switch and the Spur, Many Shades of Black, e a épica western Carolina Drama

6 – Tudo se Torna - ½ Dúzia de 3 ou 4


Disco de estréia da banda paulista ½ Dúzia de 3 ou 4, que como eles mesmos dizem, faz MPB, nem tão P, mas bastante B. Já os vi ao vivo duas vezes, e em ambos os shows, assim como no disco, a banda é irreverente, original e muito competente musicalmente.
No álbum, de 14 faixas, há espaço para samba, baião, e vários outros ritmos. Uma característica que me agrada a banda é a presença de várias vozes, masculinas e femininas, que lembram Karnak e Tom Zé, por exemplo. Este último é inclusive homenageado na música Tom Zé é Pai. Além da canção para Tom Zé, ainda aparecem no disco Sasha, Marco Maciel e outros assuntos que as vezes passam batido pelo cotidiano mas que a banda faz questão de nos lembrar.

Destaques:Samba da ONG, que questiona a validade de parte do terceiro setor, Gingko Biloba e Sabe Vó, sobre a morte de passarinhos e dignidade do tratamento de seus corpos.

5 – Estudando a Bossa – Nordeste Plaza – Tom Zé


Em 2008 a Bossa Nova completou 50 anos, Tom Zé completou 72. Portanto, é de se imaginar que ele a conheça bem.
O terceiro disco de estudo do baiano – os outros são Estudando o Samba, de 1976, e Estudando o Pagode, de 2005 – foi considerado por alguns como a melhor homenagem entre tantas que a bossa recebeu pelo seu cinquentenário. A seu modo, Tom condensa em pouco mais de 40 minutos todos os elementos essenciais da bossa, como o mar, a síncope, a voz sussurrada e tudo mais. No disco estão referências a João Gilberto, Caymmi, Tom Jobim, Vinicius, etc. Até os cantores anteriores à bossa, para quem esta foi um terremoto, nas palavras do disco, aparecem.
Na maior parte do tempo, Tom apresenta uma leveza muito diferente do seu disco anterior, Danç-Êh-Sá, e é acompanhado por cantoras em 12 das 14 faixas do álbum(Zélia Duncan, Fernanda Takai, Mônica Salmaso, entre outras), que se completa com uma faixa que tem David Byrne e outra em que Tom canta sozinho mesmo.
Novamente Tom Zé mostra que o tempo não lhe tira em nada as capacidades de fazer coisas novas, únicas e excelentes.

Destaques: Barquinho Herói, Outra Insensatez, Poe!, com versão em inglês por David Byrne e Solvador, Bahia de Caymmi, homenagem a Dorival Caymmi, que faleceu neste ano.

4 – The Age of the Understatement – The Last Shadow Puppets


Os Last Shadow Puppets são Alex Turner, dos Arctic Monkeys, e Miles Kane, dos Rascals. The Age of the Understatement é o primeiro lançamento dos dois juntos. Espero que não parem por aqui.
O disco tem uma riqueza de arranjos muito interessante, sempre com orquestrações bem perceptíveis, remetendo a gravações de outras décadas, mas mantendo a pegada enérgica num estilo característico ao rock mais recente de onde saíram os caras da banda, e que tem os Arctic Monkeys como um dos maiores representantes.
Se você gosta dos Monkeys ou dos Rascals, vale a pena ouvir, se não, vale também, pois o som dos Shadow Puppets não é uma mera ligação dessas bandas.

Destaques: Calm Like You, Black Plant e The Time Has Come Again, a última e mais calma do disco.

3 – Little Joy – Little Joy


Assim como o disco anterior, este também é uma junção de membros de outras bandas. Fabrizio Moretti, dos Strokes, e Rodrigo Amarante, dos Hermanos, integram o Little Joy, que se completa com Binki Shapiro, a namorada de Fabrizio. E assim como no disco dos Last Shadow Puppets, quem espera uma mistura das bandas dos caras aqui se engana redondamente, e logo de cara, pois a primeira coisa que se ouve colocando esse disco pra tocar é um Ukelele, que dá início a um clima de praia que permeia todo o álbum.
Apesar de algumas coisas lembrarem os strokes e os hermanos – principalmente, claro, a voz de Amarante, apesar de cantar em inglês 10 das 11 faixas do disco – o som do Little Joy é bastante original, com boas surpresas nas baladas sussurradas pela banda toda junta, na suavidade de quando Binki assume a voz principal, e nos ritmos que as vezes lembram o rock dos anos 50 e 60.

Destaques: Brand New Start, com refrão contagiante, Keep me in Mind, a que mais tem jeito de Hermanos misturado com Strokes, e Evaporar, que fecha o disco com letra em português.

2 – Oracular Spetacular – MGMT


Este disco, assim como o In Rainbows, foi lançado digitalmente em 2007 e fisicamente em 2008. Mas como não teve o mesmo alarde em torno de seu lançamento que o disco do Radiohead, Oracular Spetacular foi aparecer mesmo esse ano, então vale pra essa lista.
O Eletrorock da dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi destaque no mundo todo por combinar ritmo empolgante com efeitos e timbres psicodélicos (que aliás, me fazem lembrar dos Flaming Lips) em canções que soam muito novas e ficam tocando na cabeça depois de ouvidas.

Destaques: Weekend Wars, The Youth, Kids, The Handshake.

1 – O Coração do Homem-Bomba I e II – Zeca Baleiro




E finalmente, o primeiro colocado da lista, o álbum de 2008 que mais me diverti ouvindo. Se bem que é normal se dedicar mais a este, já que O Coração do Homem-Bomba, lançado em dois volumes – o primeiro em agosto e o segundo em novembro – tem 27 faixas (28 contando a faixa bônus) e totaliza quase noventa minutos de música. E não é qualquer música, parece que ultimamente Baleiro esteve inspirado como quando lançou PetShopMundoCão, já citado aqui no blog anteriormente.
Tudo que sempre apareceu de legal em sua carreira aparece aqui, letras engraçadas, ritmos dançantes, regravações inspiradas, baladas românticas, referências à cultura maranhense (a terra do cantor), citações a grandes nomes da música brasileira (Raul Seixas, Geraldo Vandré, Odair José, entre outros), crítica social, misturas inusitadas na construção das músicas.
Enfim, se eu tiver que sugerir a alguém um único disco de 2008 para ouvir, será esse. Ou esses, depende do ponto de vista. Eu coloco como um só porque senão ia ter dois discos do Zeca Baleiro numa lista de 10.

Destaques: Do volume I: Vai de Madureira, Ela Falou Malandro, Geraldo Vandré. Do Volume II: Era, Tacape, Pastiche.

Pronto. Aí a minha lista de discos desse ano. Se você sentiu falta de algum, pode ser porque eu não tive tempo de ouvir todos que queria (nessa situação podem estar Third, do Portishead, o de estréia dos Ting Tings e o disco vermelho do Weezer), ou então porque eu ouvi e não foi mesmo dos meus favoritos. Tem outros que eu sei que são legais mas que não ficaram na lista, como os discos ao vivo lançados esse ano pelo Blue Man Group (How to Be a Mega Star Live) e pelo Justice (A Cross The Universe). Esse ano teve ainda o lançamento mais aguardado da história – aguardado por 15 anos - Chinese Democracy, que ainda não ouvi e não sei se ouvirei, já que não sou fã do Guns nem nada. Mas que é bom ser citado pra lembrarmos que tudo é possível.
Se tem algum disco desse ano que você gostou e não está aqui nesse post, comente dizendo qual é, até para que eu possa ouvi-lo e ver se gosto também.

Paro por aqui porque esse já deve ser o post mais longo do blog.

Até 2009!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Los Hermanos, e o que veio depois

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Los Hemanos é uma das melhores bandas nacionais (e internacionais) que surgiram recentemente, na minha opinião.
É sério, eu poderia escrever metros sobre eles, sobre cada CD, sobre as características principais de cada músico e cada música, sobre minhas partes favoritas de suas obras, letras e sonoridades. Dá muita, mas muita coisa.

Sugestões rápidas:
- Álbum: Ventura. É uma coisa absurda, um CD completo, lindo. Isso é unanimidade entre fãs de Los Hermanos. Eu também gosto muito do último lançado, o 4. Acho muito bonito e complexo, em letras e, principalmente, músicas.
- Música: Do Lado de Dentro. É do Ventura, e uma das que eu mais gosto de todas deles. A letra ilustra muito bem a capacidade criativa do Marcelo Camelo. E também Condicional, dessa vez do 4 e de composição do Rodrigo Amarante. Destaque para seu jeito peculiar de cantar e seu ritmo rock-mpb-moderninho. O clipe dessa música também é muito legal.

Mas o que importa agora é falar menos em Los Hermanos (é, preciso me conter, porque é dificil. Quem sabe um post futuro, falando páginas só do Ventura!) e mais do que surgiu depois do recesso anunciado no ano passado. Dois projetos, em especial. Dois projetos, cada um de um dos cantores da banda.

camelo
amarante

Marcelo Camelo
Marcelo Camelo – Sou

Sou
, lançado em setembro, é um CD que tem bem o “jeitão” do Camelo. Algo que já vinha acontecendo nos CDs dos Hermanos. Um pé na bossa nova. Na verdade, um pezão! Fazendo o que na minha opinião é uma bela bossa contemporânea, que não é presa aos anos dourados do ritmo, e nem tão moderninha que chegue a se descaracterizar, o CD conta com músicas ora melancólicas, como ele faz e sempre fez muito bem, ora bonitinhas, ora saudosistas, e ora até com um pé no erudito!

Das melancólias tem-se Doce Solidão como exemplo, que tem um assovio e melodia muito bonitos, fora a letra, que nas músicas do Camelo é sempre muito boa (inclusive, eu não vou mais falar das letras dele pra economizar espaço, considere que elas SEMPRE são incríveis).
Quanto às bonitinhas, temos Janta, música com partes em inglês e protuguês gravada com a menina-prodígio do folk nacional, Mallu Magalhães. A voz de menina dela reforça bastante o tom fofo da música. Melodia simples e marcante. Muito boa.
O saudosimo é marcado no disco pela música Copacabana, uma marchinha de carnaval perfeita, como se tivesse sido retirada daquele Rio de Janeiro antigo, dos primeiros carnavais. Não só tem uma melodia perfeita como uma letra especial. Fala tanto do macro quanto do micro. Tanto “Todo destino padece aqui/ Você precisa ver como fica no carnaval” quanto “O bairro do peixoto é um barato/ E os velhinhos são bons de papo”.
Finalmente, o pé no erudito vem através da música Saudade, que possiu um arranjo de violão clássico, algo que não se vê tanto por aí hoje em dia, principalmente em música popular brasileira. Música original e muito, muito bonita. Além dela, existem outras duas faixas instrumentais, só com piano. Uma é regravação da própria Saudade. Outra, também regravação de uma música do mesmo CD, Passeando.
E vale dizer que o tal do tom rock-mpb-moderninho característico dos Hermanos também teve seu lugar, em Téo e a Gaivota. Além desses, vale atentar para Liberdade, gravada com o acordeon de Dominguinhos.

Por fim, Sou é um CD diferente do que se tem hoje, pelo menos para artistas de tão grande escalão, como o Camelo. Feliz e triste, agitado e calmo, novo e velho. Sou e Nós.


Rodrigo Amarante
Little Joy – Little Joy

Little Joy, que ainda nem foi lançado – será dia 4 de novembro, mas as músicas já vazaram na internet e eu já ouvi. é. desculpa, Amarante! – é um CD que tem bem o “jeitão” do Amarante. Algo que já vinha acontecendo nos CDs dos Hermanos. Uma busca pelo rock (mais) alternativo, um jeito mais “largado”. Em parceria com o baterista dos Strokes, Fabrizio Moretti, também brasileiro, e Binki Shapiro, namorada deste, o cd tem um rock bonito e tranquilo, com um quê “tropical” e uma sonoridade nova que remete a músicas antigas.

As tais sonoridades já são bem percebidas na primeira música, The Next Time Around. Há um ukelele e backing-vocals que também tem algo “tropical-antigo”, algo esse que aliás não sei explicar. Nessa música, assim como no CD todo, há a presença tanto do inglês como do português. Uma boa música-síntese. Mas não tão marcante quanto a que vem em seguida, Brand New Start. Com certeza a música mais fácil e gostosa de ouvir do CD. Bonita, leve e cantada de um jeito gostoso por amarante, tem uma melodia bem agradável e o refrão mais marcante desse CD, e de muitos outros.
Outro destaque é No One’s Better Sake. Ainda (e sempre) com a sonoridade retrô, é marcada (pelo menos para mim), pelo refrão diferente, com uma bela linha de órgão e a voz “suave” do Amarante.
Ainda há Shoulder to Shoulder, a música que mais estou gostando no momento. É calminha, com notas marcadas, e como parece fácil nesse CD, um refrão lindo. Talvez não tão marcante quanto Brand New Start, mas na minha opinião, mais bonito. As notas, a voz e os backing-vocals fazendo a base para os acordes.
Mais: With Strangers. Contrariando um pouco o tom animadinho do CD, essa música é mais melancólica, com uma melodia mais densa e um instrumental menos cheio de coisas. Conta principalmente com violão, voz e backing-vocals (que são talvez os mais bonitos do CD). A voz do Amarante cabe bem, arrastada.
Além desses destaques, pode-se atentar para Evaporar, música do Amarante inteira em português, e para as músicas em que Binki assume os vocais, seja no meio da música, seja nela toda, como em Unattainable.

Por fim, Little Joy é um CD de rock alternativo bonito, diferente e tranquilo, com músicas marcantes, seja em inglês ou português. Digno do Amarante, um artista de tão grande escalão.

sou
lj

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Deslizes, detalhes...

O que torna um disco ao vivo diferente de um disco de estúdio? Não tenho dúvida alguma que esta seja uma pergunta um tanto óbvia, desnecessária. Mas, sinceramente, não enxergo uma resposta imediata.

Discos ao vivo, geralmente, apresentam menor qualidade e pureza sonora que discos de estúdio? Não necessariamente. Com a portabilidade do hardware de captação e armazenamento de áudio tornou-se possível obter uma qualidade de som ao vivo equiparável à de estúdio. Como exemplo posso citar o álbum Prenda Minha, de Caetano Veloso.

Na verdade, o que de fato diferencia as duas ocasiões é a possibilidade que existe, no estúdio, de se regravar exaustivamente, aplicando detalhes, modificando pequenos trechos de cada faixa sonora. Da mesma forma, o cantor pode corrigir cada detalhe de sua interpretação. Se esse processo de trabalho exaustivo em cada música de um disco pode aproximá-lo da perfeição em sua execução, eliminando imperfeições, deslizes e ruídos, por outro lado, um disco de estúdio nunca terá a mesma energia que um disco ao vivo.

É claro que existem artistas que preferem um tipo de gravação específico. Os Beatles puderam experimentar novas formas de abordagem da gravação em estúdio numa época em que a tecnologia evoluiu de forma intensa. Os experimentos realizados e efetivados em seus álbuns Revolver, Sgt. Peppers Lonely Hears Club Band, Magical Mystery Tour, The Beatles (White Album) e, no ápice do apuro no detalhe, na perfeição que flutua entre o clássico e o moderno, fechando no despudoradamente belo álbum Abbey Road.

Diferentemente, existem artistas que somente atingem seu ápice criativo no calor do palco, jamais conseguindo reproduzir essa emoção dentro de um estúdio. Ainda assim, existe uma questão nos discos gravados em shows ao vivo. Seria possível comparar o disco ao vivo à presença física do artista no show? Claro que não. É essa conclusão que me leva a questionar mais uma vez a real importância dos discos ao vivo. Afinal, o disco ao vivo é um extrato de algo maior, mais intenso e completo que é o show. Ainda mais se considerarmos artistas que possuem uma presença singular, que porta toda uma essência em sua postura. Essa argumentação toda poderia ser fechada e ficaríamos acreditando, então, que os discos ao vivo são inúteis, dispensáveis, praticamente um catarro dentro da produção artística dos músicos. Mas é claro que não fui convincente até então, porque sequer convenci a mim mesmo.

Vamos pegar um bom exemplo para fazer uma comparação. Ney Matogrosso interpretando Cartola. Existe o disco de estúdio e o ao vivo. Recentemente pude escutar os dois em ocasiões diversas. Um detalhe fundamental para o que vou dizer a seguir é termos a compreensão de que, tal como um livro ou um filme, escutar um mesmo disco em situações diversas é como que escutar discos distintos. Quando se escuta algo conversando com os amigos numa mesa de bar perde-se muito, ouve-se mas não se escuta. Já quando escutamos em nosso quarto fechados, luzes apagadas, é outra experiência, novas músicas surgem frente nossos sentidos. Da mesma forma, a cada vez que se ouve novamente esse disco, novas coisas são percebidas, podemos atemo-nos aos detalhes sem nos perdermos do todo. Abro um parêntesis aqui para citar os 5 minutos e 37 segundos da música Hey Jude, presente no Past Masters Two dos Beatles. Nesse instante da música pode ser escutado ao fundo uma voz masculina dizendo claramente “pega o cavaquinho”. Não fui eu quem descobri isso. Recentemente me disseram isso e, quando escutei, foi como se tivesse encontrado às minas do rei Salomão.

De volta ao assunto, foi numa dessas formas diferentes de escutar um mesmo disco que descobri uma nova importância do disco ao vivo. Enquanto caminhava escutando música no walk man – sim, sou da geração dos anos 90 – pude escutar o álbum Interpreta Cartola Ao Vivo. Pelo mais absurdo que pareça, apesar da qualidade de áudio prejudicada, que faz com que os instrumentos, como o violão, percam o brilho, e a voz se dissipe no ar, tendo menos impacto, menos projeção e força, ainda preferi escutar o disco ao vivo a ouvir o disco de estúdio. Foi quando fiz todos esses questionamentos e cheguei à conclusão de que quando se ouve música em movimento, necessitando dar atenção a outras coisas, ou seja, sem poder prestar tanta atenção aos detalhes, o disco ao vivo tem muito valor. Pois, como estamos imersos em um mundo nosso com os fones de ouvido; porém lidando com um outro mundo que se coloca à nossa frente, a energia, os detalhes do disco ao vivo surgem com mais força que os do disco de estúdio. Como detalhes, o disco ao vivo contém “erros” e deslizes conseqüência da espontaneidade que surge no palco. Ao meu ver, essa é sua especificidade.