sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Adeus, ano velho!

Dezembro é aquele mês em que as pessoas ponderam sobre como foi o ano que está acabando, que os canais de TV passam suas retrospectivas destacando o que mais foi notícia, e que blogs como este, que falam de música, fazem listas de melhores discos do ano. Não tentarei dizer quais foram os melhores, tanto por nem ter ouvido tantos discos esse ano quanto porque, afinal, quem sou eu pra dizer o que é melhor que o que, né? Então essa lista tá mais para “Os discos que o Rafael mais curtiu em 2008” do que para “Os Melhores do ano”
In Rainbows, do Radiohead, fica de fora porque eu o considero um lançamento de 2007, apesar de só ter ido pras lojas em cd dia 01/01/08
Então aí vai a lista, do último ao primeiro lugar.

10 – Anywhere I Lay My Head – Scarlett Johansson


Em seu primeiro registro fonográfico, Scarlett Johansson, mais conhecida por seu trabalho como atriz, apresenta onze canções, sendo que dessas, apenas uma é original (Song for Jo) e dez são regravações, todas de Tom Waits. Eu não conheço as gravações originais, e até vi por aí fãs do autor reclamando do disco de Scarlett, mas gostei das versões da moça. O disco é todo levado em ritmo lento – exceto por I Don’t Wanna Grow Up, que faz lembrar que os Ramones já a regravaram antes – e em ambientação meio obscura, apoiada em longas notas de órgão. Isso faz com que nem sempre seja fácil ouvir os 45 minutos do album de uma só vez, mas se você estiver no clima certo, vai muito bem.

Destaques: A instrumental Fawn, que abre o disco, e Falling Down, com participação de David Bowie.

9 – Segundo Ato – O Teatro Mágico


Após alguns anos de espera e já sem alguns de seus membros originais, a trupe (como prefere ser chamada) de Fernando Anitelli apresenta seu segundo disco. Várias músicas já eram conhecidas de quem frequenta os shows da banda (não exatamente o meu caso) e só esse ano tiveram suas versões de estúdio lançadas, mas há também boas novidades.
Neste segundo ato, Anitelli trata em suas composições de temas mais sérios do que no primeiro lançamento. Aqui aparecem moradores de rua, trabalhadores explorados, televisão alienante, arte desvalorizada, e ainda algumas sobre comportamento e relacionamentos, todas bastante interessantes.

Destaques: Xanéu N°5, com Zeca Baleiro, e “...”, a faixa que fecha o disco e inclui uma música bônus.

8 – Save Your Soul – She Wants Revenge


Este é o único da lista que não é exatamente um álbum, e sim um EP (algo longo demais pra ser um single e curto demais pra ser um álbum), tem apenas 4 músicas, mas 4 belas músicas, então merece um lugar na lista.
A banda americana que ano passado mesmo lançou o também muito bom This is Forever, esse sim um álbum com suas 13 faixas, aparece agora no formato reduzido, e se dá muito bem nele. Com uma pegada menos sintetizada e eletrônica que anteriormente, os quase 18 minutos do disco revelam a banda em momentos ora mais pesados, ora mais melodiosos, mas sempre com a mesma empolgação de sempre.

Destaque: Save Your Soul, a faixa título.

7 – Consoler of the Lonely – The Raconteurs


Ao contrário do que muitos pensavam, os Raconteurs, banda que conta com Jack White, dos White Stripes, não era apenas um projeto paralelo de um disco só. Eles voltaram em 2008, com Consoler of the Lonely.
Aqui o senhor White não parece tão maluco como nos stripes – em que faz música de tourada e toca marimba – apesar de manter seus solos estridentes e seu timbre característico de voz. A banda apresenta bons rocks, às vezes com jeito de folk e blues, quase sempre com refrões marcantes e momentos em que as músicas crescem em arranjos grandiosos que contam com violinos, conjuntos de sopro, piano, além das tradicionais guitarras, baixo e bateria.
No geral, a banda de rock do Jack White, como o Jão costuma chamar os Raconteurs, parece mais uma banda madura e menos um projeto paralelo.

Destaques: The Switch and the Spur, Many Shades of Black, e a épica western Carolina Drama

6 – Tudo se Torna - ½ Dúzia de 3 ou 4


Disco de estréia da banda paulista ½ Dúzia de 3 ou 4, que como eles mesmos dizem, faz MPB, nem tão P, mas bastante B. Já os vi ao vivo duas vezes, e em ambos os shows, assim como no disco, a banda é irreverente, original e muito competente musicalmente.
No álbum, de 14 faixas, há espaço para samba, baião, e vários outros ritmos. Uma característica que me agrada a banda é a presença de várias vozes, masculinas e femininas, que lembram Karnak e Tom Zé, por exemplo. Este último é inclusive homenageado na música Tom Zé é Pai. Além da canção para Tom Zé, ainda aparecem no disco Sasha, Marco Maciel e outros assuntos que as vezes passam batido pelo cotidiano mas que a banda faz questão de nos lembrar.

Destaques:Samba da ONG, que questiona a validade de parte do terceiro setor, Gingko Biloba e Sabe Vó, sobre a morte de passarinhos e dignidade do tratamento de seus corpos.

5 – Estudando a Bossa – Nordeste Plaza – Tom Zé


Em 2008 a Bossa Nova completou 50 anos, Tom Zé completou 72. Portanto, é de se imaginar que ele a conheça bem.
O terceiro disco de estudo do baiano – os outros são Estudando o Samba, de 1976, e Estudando o Pagode, de 2005 – foi considerado por alguns como a melhor homenagem entre tantas que a bossa recebeu pelo seu cinquentenário. A seu modo, Tom condensa em pouco mais de 40 minutos todos os elementos essenciais da bossa, como o mar, a síncope, a voz sussurrada e tudo mais. No disco estão referências a João Gilberto, Caymmi, Tom Jobim, Vinicius, etc. Até os cantores anteriores à bossa, para quem esta foi um terremoto, nas palavras do disco, aparecem.
Na maior parte do tempo, Tom apresenta uma leveza muito diferente do seu disco anterior, Danç-Êh-Sá, e é acompanhado por cantoras em 12 das 14 faixas do álbum(Zélia Duncan, Fernanda Takai, Mônica Salmaso, entre outras), que se completa com uma faixa que tem David Byrne e outra em que Tom canta sozinho mesmo.
Novamente Tom Zé mostra que o tempo não lhe tira em nada as capacidades de fazer coisas novas, únicas e excelentes.

Destaques: Barquinho Herói, Outra Insensatez, Poe!, com versão em inglês por David Byrne e Solvador, Bahia de Caymmi, homenagem a Dorival Caymmi, que faleceu neste ano.

4 – The Age of the Understatement – The Last Shadow Puppets


Os Last Shadow Puppets são Alex Turner, dos Arctic Monkeys, e Miles Kane, dos Rascals. The Age of the Understatement é o primeiro lançamento dos dois juntos. Espero que não parem por aqui.
O disco tem uma riqueza de arranjos muito interessante, sempre com orquestrações bem perceptíveis, remetendo a gravações de outras décadas, mas mantendo a pegada enérgica num estilo característico ao rock mais recente de onde saíram os caras da banda, e que tem os Arctic Monkeys como um dos maiores representantes.
Se você gosta dos Monkeys ou dos Rascals, vale a pena ouvir, se não, vale também, pois o som dos Shadow Puppets não é uma mera ligação dessas bandas.

Destaques: Calm Like You, Black Plant e The Time Has Come Again, a última e mais calma do disco.

3 – Little Joy – Little Joy


Assim como o disco anterior, este também é uma junção de membros de outras bandas. Fabrizio Moretti, dos Strokes, e Rodrigo Amarante, dos Hermanos, integram o Little Joy, que se completa com Binki Shapiro, a namorada de Fabrizio. E assim como no disco dos Last Shadow Puppets, quem espera uma mistura das bandas dos caras aqui se engana redondamente, e logo de cara, pois a primeira coisa que se ouve colocando esse disco pra tocar é um Ukelele, que dá início a um clima de praia que permeia todo o álbum.
Apesar de algumas coisas lembrarem os strokes e os hermanos – principalmente, claro, a voz de Amarante, apesar de cantar em inglês 10 das 11 faixas do disco – o som do Little Joy é bastante original, com boas surpresas nas baladas sussurradas pela banda toda junta, na suavidade de quando Binki assume a voz principal, e nos ritmos que as vezes lembram o rock dos anos 50 e 60.

Destaques: Brand New Start, com refrão contagiante, Keep me in Mind, a que mais tem jeito de Hermanos misturado com Strokes, e Evaporar, que fecha o disco com letra em português.

2 – Oracular Spetacular – MGMT


Este disco, assim como o In Rainbows, foi lançado digitalmente em 2007 e fisicamente em 2008. Mas como não teve o mesmo alarde em torno de seu lançamento que o disco do Radiohead, Oracular Spetacular foi aparecer mesmo esse ano, então vale pra essa lista.
O Eletrorock da dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden foi destaque no mundo todo por combinar ritmo empolgante com efeitos e timbres psicodélicos (que aliás, me fazem lembrar dos Flaming Lips) em canções que soam muito novas e ficam tocando na cabeça depois de ouvidas.

Destaques: Weekend Wars, The Youth, Kids, The Handshake.

1 – O Coração do Homem-Bomba I e II – Zeca Baleiro




E finalmente, o primeiro colocado da lista, o álbum de 2008 que mais me diverti ouvindo. Se bem que é normal se dedicar mais a este, já que O Coração do Homem-Bomba, lançado em dois volumes – o primeiro em agosto e o segundo em novembro – tem 27 faixas (28 contando a faixa bônus) e totaliza quase noventa minutos de música. E não é qualquer música, parece que ultimamente Baleiro esteve inspirado como quando lançou PetShopMundoCão, já citado aqui no blog anteriormente.
Tudo que sempre apareceu de legal em sua carreira aparece aqui, letras engraçadas, ritmos dançantes, regravações inspiradas, baladas românticas, referências à cultura maranhense (a terra do cantor), citações a grandes nomes da música brasileira (Raul Seixas, Geraldo Vandré, Odair José, entre outros), crítica social, misturas inusitadas na construção das músicas.
Enfim, se eu tiver que sugerir a alguém um único disco de 2008 para ouvir, será esse. Ou esses, depende do ponto de vista. Eu coloco como um só porque senão ia ter dois discos do Zeca Baleiro numa lista de 10.

Destaques: Do volume I: Vai de Madureira, Ela Falou Malandro, Geraldo Vandré. Do Volume II: Era, Tacape, Pastiche.

Pronto. Aí a minha lista de discos desse ano. Se você sentiu falta de algum, pode ser porque eu não tive tempo de ouvir todos que queria (nessa situação podem estar Third, do Portishead, o de estréia dos Ting Tings e o disco vermelho do Weezer), ou então porque eu ouvi e não foi mesmo dos meus favoritos. Tem outros que eu sei que são legais mas que não ficaram na lista, como os discos ao vivo lançados esse ano pelo Blue Man Group (How to Be a Mega Star Live) e pelo Justice (A Cross The Universe). Esse ano teve ainda o lançamento mais aguardado da história – aguardado por 15 anos - Chinese Democracy, que ainda não ouvi e não sei se ouvirei, já que não sou fã do Guns nem nada. Mas que é bom ser citado pra lembrarmos que tudo é possível.
Se tem algum disco desse ano que você gostou e não está aqui nesse post, comente dizendo qual é, até para que eu possa ouvi-lo e ver se gosto também.

Paro por aqui porque esse já deve ser o post mais longo do blog.

Até 2009!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Los Hermanos, e o que veio depois

lh

Los Hemanos é uma das melhores bandas nacionais (e internacionais) que surgiram recentemente, na minha opinião.
É sério, eu poderia escrever metros sobre eles, sobre cada CD, sobre as características principais de cada músico e cada música, sobre minhas partes favoritas de suas obras, letras e sonoridades. Dá muita, mas muita coisa.

Sugestões rápidas:
- Álbum: Ventura. É uma coisa absurda, um CD completo, lindo. Isso é unanimidade entre fãs de Los Hermanos. Eu também gosto muito do último lançado, o 4. Acho muito bonito e complexo, em letras e, principalmente, músicas.
- Música: Do Lado de Dentro. É do Ventura, e uma das que eu mais gosto de todas deles. A letra ilustra muito bem a capacidade criativa do Marcelo Camelo. E também Condicional, dessa vez do 4 e de composição do Rodrigo Amarante. Destaque para seu jeito peculiar de cantar e seu ritmo rock-mpb-moderninho. O clipe dessa música também é muito legal.

Mas o que importa agora é falar menos em Los Hermanos (é, preciso me conter, porque é dificil. Quem sabe um post futuro, falando páginas só do Ventura!) e mais do que surgiu depois do recesso anunciado no ano passado. Dois projetos, em especial. Dois projetos, cada um de um dos cantores da banda.

camelo
amarante

Marcelo Camelo
Marcelo Camelo – Sou

Sou
, lançado em setembro, é um CD que tem bem o “jeitão” do Camelo. Algo que já vinha acontecendo nos CDs dos Hermanos. Um pé na bossa nova. Na verdade, um pezão! Fazendo o que na minha opinião é uma bela bossa contemporânea, que não é presa aos anos dourados do ritmo, e nem tão moderninha que chegue a se descaracterizar, o CD conta com músicas ora melancólicas, como ele faz e sempre fez muito bem, ora bonitinhas, ora saudosistas, e ora até com um pé no erudito!

Das melancólias tem-se Doce Solidão como exemplo, que tem um assovio e melodia muito bonitos, fora a letra, que nas músicas do Camelo é sempre muito boa (inclusive, eu não vou mais falar das letras dele pra economizar espaço, considere que elas SEMPRE são incríveis).
Quanto às bonitinhas, temos Janta, música com partes em inglês e protuguês gravada com a menina-prodígio do folk nacional, Mallu Magalhães. A voz de menina dela reforça bastante o tom fofo da música. Melodia simples e marcante. Muito boa.
O saudosimo é marcado no disco pela música Copacabana, uma marchinha de carnaval perfeita, como se tivesse sido retirada daquele Rio de Janeiro antigo, dos primeiros carnavais. Não só tem uma melodia perfeita como uma letra especial. Fala tanto do macro quanto do micro. Tanto “Todo destino padece aqui/ Você precisa ver como fica no carnaval” quanto “O bairro do peixoto é um barato/ E os velhinhos são bons de papo”.
Finalmente, o pé no erudito vem através da música Saudade, que possiu um arranjo de violão clássico, algo que não se vê tanto por aí hoje em dia, principalmente em música popular brasileira. Música original e muito, muito bonita. Além dela, existem outras duas faixas instrumentais, só com piano. Uma é regravação da própria Saudade. Outra, também regravação de uma música do mesmo CD, Passeando.
E vale dizer que o tal do tom rock-mpb-moderninho característico dos Hermanos também teve seu lugar, em Téo e a Gaivota. Além desses, vale atentar para Liberdade, gravada com o acordeon de Dominguinhos.

Por fim, Sou é um CD diferente do que se tem hoje, pelo menos para artistas de tão grande escalão, como o Camelo. Feliz e triste, agitado e calmo, novo e velho. Sou e Nós.


Rodrigo Amarante
Little Joy – Little Joy

Little Joy, que ainda nem foi lançado – será dia 4 de novembro, mas as músicas já vazaram na internet e eu já ouvi. é. desculpa, Amarante! – é um CD que tem bem o “jeitão” do Amarante. Algo que já vinha acontecendo nos CDs dos Hermanos. Uma busca pelo rock (mais) alternativo, um jeito mais “largado”. Em parceria com o baterista dos Strokes, Fabrizio Moretti, também brasileiro, e Binki Shapiro, namorada deste, o cd tem um rock bonito e tranquilo, com um quê “tropical” e uma sonoridade nova que remete a músicas antigas.

As tais sonoridades já são bem percebidas na primeira música, The Next Time Around. Há um ukelele e backing-vocals que também tem algo “tropical-antigo”, algo esse que aliás não sei explicar. Nessa música, assim como no CD todo, há a presença tanto do inglês como do português. Uma boa música-síntese. Mas não tão marcante quanto a que vem em seguida, Brand New Start. Com certeza a música mais fácil e gostosa de ouvir do CD. Bonita, leve e cantada de um jeito gostoso por amarante, tem uma melodia bem agradável e o refrão mais marcante desse CD, e de muitos outros.
Outro destaque é No One’s Better Sake. Ainda (e sempre) com a sonoridade retrô, é marcada (pelo menos para mim), pelo refrão diferente, com uma bela linha de órgão e a voz “suave” do Amarante.
Ainda há Shoulder to Shoulder, a música que mais estou gostando no momento. É calminha, com notas marcadas, e como parece fácil nesse CD, um refrão lindo. Talvez não tão marcante quanto Brand New Start, mas na minha opinião, mais bonito. As notas, a voz e os backing-vocals fazendo a base para os acordes.
Mais: With Strangers. Contrariando um pouco o tom animadinho do CD, essa música é mais melancólica, com uma melodia mais densa e um instrumental menos cheio de coisas. Conta principalmente com violão, voz e backing-vocals (que são talvez os mais bonitos do CD). A voz do Amarante cabe bem, arrastada.
Além desses destaques, pode-se atentar para Evaporar, música do Amarante inteira em português, e para as músicas em que Binki assume os vocais, seja no meio da música, seja nela toda, como em Unattainable.

Por fim, Little Joy é um CD de rock alternativo bonito, diferente e tranquilo, com músicas marcantes, seja em inglês ou português. Digno do Amarante, um artista de tão grande escalão.

sou
lj

sábado, 16 de agosto de 2008

Tudo tem seu fim

, até a melhor das músicas. Mas também é no fim que você pode encontrar as melhores supresas.
Agora que o prólogo já foi feito, essa postagem trata de finais interessantes de músicas.

Há muitos e muitos jeitos de acabar uma música, uns mais tradicionais e uns mais ousados. Não que os tradicionais sejam ruins, lógico. O fade-out é perfeito em muitos casos, a parada no final do riff ou do refrão também. Mas quando você tem uma surpresa no final, dá um gostinho a mais. É comer o melhor do prato por último, é deixar a parte com mais queijo da pizza pro final. Metáforas toscas a parte, eu geralmente gosto quando tem algo "inesperado" no final da música.

E nem precisa ser nos ultimos segundinhos da música, pode ser na parte final, entende?
Por exemplo, em Death of a Martian, última música do CD mais recente do Red Hot Chili Peppers, tudo ia seguindo normalmente, riffs bons, um refrão bem marcante, etc, até os 02:57, mais ou menos. A base muda para outro ciclo de acordes e o Anthony Kiedis entra cantando mais "falado". Assim, ele começa a meio que recitar um monte de coisa, como num rap, e a música vai crescendo, ficando mais cheia de ruídos e volume, e no final ele está quase gritando e a música chega ao ápice, terminando aos 04:24! Um minuto e meio de parte final! Coisa linda!
Isso da parte final acontece também em Carolina Drama, dos Raconteurs. A música era calma e em partes normais, de 2 ou 4 versos. Aos 03:45, aproximadamente, depois do segundo "interlúdio" a música cresce repentinamente, fica bem mais cheia e mais pesada. Aí o Jack White faz o que consegue de melhor nos vocais: Grita. Na verdade, canta forte. É quase o mesmo esquema da música dos Chili Peppers, um rap mais forte que o resto da música. Aí todos os instrumentos que aparecem de vez em quando na música entram todos juntos, até um violino insano. E tudo termina num coro de "Lalalala, lalalala". Na verdade não acaba assim, depois disso tem uma partezinha com 4 frases só, bem calma de novo, parecida com o começo, pra emoldurar a coisa toda, que é uma história. Aliás, o fato de essa música ser uma história faz todo esse final ser mais bonito ainda. O que ocorre na música é o acompanhamento da curva de tensão da história. De acordo com a carga emocional da letra, a música ganha mais e mais força, até o final belo, caótico e denso (da letra e música). Imperdível. Ouça e leia.

Mas também, voltando ao topo, tem finais supreendentes que são realmente no finalzinho. Mas no finalzinho mesmo. Na verdade, no exato instante em que a música acaba! Sim, existe a paradinha e tal, mas quando a música é CORTADA de repente a coisa muda! É, de repente ela pára totalmente! Acaba! Sem fechar verso ou riff ou refrão, nada!
É o caso (já falado em uma postagem anterior) de Ize of the World, dos Strokes. Julian Casablancas ainda estava cantando, a música ainda estava rolando! Tava no meio de um verso do refrão. E aí pára, some! E pronto!
Ainda nessa do corte brusco, tem um exemplo que prova que finais diferentões não são coisa recente não (caso vc esteja pensando, porque os 3 exemplos até agora são de 2006 pra cá). I Want You (She's so Heavy), dos Beatles! No final da música, tá rolando o instrumental do refrão, (agora sem a voz) repetidamente. Inclusive, é o momento em que a música está mais cheia de coisas também, ruídos e tal. E aí (novamente) pára! Pára no meio do instrumental! E pronto! Menos radical que a dos Strokes (que corta no meio de uma palavra), mas ainda ousado!

Outros dois exemplos legais:
Have a Cigar, do Pink Floyd, que no final tem o som repentinamente alterado pra simular um rádio, o que faz sentido na história do CD (Wish You Were Here).
Nude, do Radiohead, que no final em si não tem nada demais, mas é utilizado invertido no começo. Ou seja, a música começa com o fim, invertido! Não deixa de ser um uso criativo do final!

Se você tiver outros exemplos, por favor poste nos comentários! Quanto mais, melhor!

Bom, então é isso! Até a próxi

quinta-feira, 31 de julho de 2008

As Meninas dos Jardins


Zeca Baleiro é um dos grandes nomes da música pop nacional dos dias de hoje, na minha opinião. E PetShopMundoCão (2002) é, ainda na minha opinião, seu melhor disco. Sendo ainda mais específico: As Meninas dos Jardins, décima faixa desse disco, é a mais interessante delas. E é sobre ela esse post.


Uma das características que mais me faz ser fã do Baleiro é a sua capacidade de misturar sonoridades e referências em suas músicas, talvez por isso eu goste tanto d’As Meninas dos Jardins. A música começa com um piano, depois entram instrumentos de orquestra, beat box e um cavaquinho, tudo de uma vez, antes de entrar a voz de Zeca. Daí já se percebe que as influências são múltiplas. Durante a música aparecem versos de Rua Augusta(Hervé Cordovil)(gravada por Ronnie Cord, Mutantes, Raul, e outros) e Alegria, Alegria(Caetano Veloso).

A letra fala principalmente da desigualdade social, que a música situa na São Paulo contemporânea (referências a bairros e ruas da cidade, como a rua Oscar Freire, por exemplo), mas certamente não se limita a essa cidade ou a esse tempo (isso fica claro nos versos que precedem o título da música na letra: Caravela de Cabral / Morte e vida Severina / As Meninas dos Jardins gostam de rap)

As Meninas dos Jardins gostam de rap. Isso me faz lembrar um verso de Nego Drama, dos Racionais Mcs, em que Mano Brown canta “seu filho quer ser preto, rá, que ironia”. Não é por acaso que me lembra, a música do Baleiro também cita Mano Brown, nos versos “eu vi o mano Mano Brown cantando um rap pra valer / eu vi o mano Mano Brown vestindo Gap na tv”. Acho esse um dos grandes versos da letra, além de demonstrar admiração por Brown, Baleiro ainda comenta sobre a opção do rapper de se vestir com roupas de marca, o que pode gerar grandes discussões; mas esse é um assunto que deve ser olhado melhor nas letras do próprio Brown. Sobre as Meninas dos Jardins, elas gostam de rap mas não só disso, aproveitando-se de seu costume de fazer trocadilhos, Zeca diz que As Meninas dos Jardins gostam de rap / As meninas dos jardins gostam de happy end, aí dá pra ver que elas podem gostar da pose de rapper e tudo mais, mas querem mais o mundo bonitinho dos filmes com final feliz.

O último estrofe da música é mais duro, soa ateu em orações ao vento / preces sem destino. É imagético no verso Sangue no asfalto, e recorre ao trocadilho novamente quando termina dizendo Ninguém é alto o suficiente que não possa rastejar. Essa é a última frase que Zeca canta na música, depois disso entra um coro de mulheres cantando uma cantiga popular adaptada.

"O meu boy morreu
que será de mim?
manda buscar outro correndo
lá no itaim"

(na cantiga original, quem morre é um boi e o outro deve ser buscado no Piauí)


Depois disso, há uma conclusão instrumental da música, novamente beat box, orquestra e acaba só com o piano do começo.


Uma coisa que eu pensei enquanto escrevia isso tudo é que a música também tem cara de narrativa mesmo. O cara acorda de manhã, vai trabalhar de motoboy, desce a rua augusta para fazer algum trabalho nos jardins (a augusta liga o centro aos jardins), passa pela oscar freire quando esta cruza a augusta, no fim acaba sofrendo um acidente e morrendo, aí entra a responsável cantando que precisa de um boy novo. Mas não garanto que seja isso, e nem precisa ser isso pra ser uma excelente letra.


Bem, no texto sobre o Kid17 eu disse que só por Idioteque valia a pena ouvir o disco, é chato me repetir, mas é verdade, por As Meninas Dos Jardins já vale a pena ouvir tudo que puder do Baleiro (e não é pouca coisa). Eu pulei um monte de coisa que queria ter dito aqui, pra não ficar um negócio tão longo e chato, mas espero ter conseguido despertar o interesse de ouvir a música em quem não a conhece.


quarta-feira, 30 de julho de 2008

O que importa é o amor

As bandas de rock "moderno", ou "alternativo", ou qualquer coisa, estão mostrando ao mundo mais do que nunca que guitarra é muito mais criatividade e muito menos virtude.

Esses aí da foto são, pra quem não conhece, Yngwie Malmsteen e Jack White, respectivamente. Malmsteen é conhecido por sua incrível habilidade e destreza com a guitarra e as escalas musicais. É o rei dos arpeggios, faz músicas abusrdamente complexas, rápidas e impossíveis de serem tocadas por pessoas normais (brincadeira. mas eu não consegui). Jack White é conhecido por liderar a banda/duo The White Stripes, e por sua música minimalista, riffs pequenos e fáceis. Mas isso não o impede de destruir o mundo na guitarra. Aqueles riffs fáceis são tambéms pegajosos e fortes.

O que eu quero dizer aqui é que hoje é muito claro pra mim que o que importa pra vc fazer música não é a virtude, e sim a criatividade. Criatividade depende de virtude? Não sei, acho que não, sinceramente.

Nenhuma revolução precisou ocorrer pra isso poder ser falado. Na verdade eu acho que isso é mais um post meu pra mim mesmo. Eu já tive essa fase de só gostar de coisas extremamente difíceis. Foi minha fase Metallica. Eu ainda gosto deles. Mas abri bem a cabeça. (Aliás, fãs do Malmsteen, não me levem a mal: Eu reconheço que ele é foda, até acho legal Arpeggios From Hell. É que a fase passou. E ele é o extremo oposto dos guitarristas que eu ouço hoje, então era útil pro exemplo.)

É lógico. A simplicidade em detrimento da habilidade sempre existiu. Ramones, por grande exemplo. Mas como eu nem era nascido, e nem tinha amadurecido meu pensamento pra isso, prefiro pegar como exemplo as bandas atuais. Strokes, White Stripes, Arctic Monkeys. Nessas bandas, as linhas de guitarra geralmente são muito simples, "tocáveis", e incrivelmente boas! São fortes e eficientes. Aliás, foi ouvindo o que eu estou ouvindo nesse exato momento - Arctic Monkeys - que eu decidi escrever isso tudo. É incrível. É um riff que qualquer pessoa conseguiria fazer! Só que ninguém nunca tinha pensado nele. Aí o cara vai e faz, e vc não consegue parar de ouvir!
Os solos costumam existir em menor proporção (comparando com uma banda de metal melódico, por exemplo), e são mais simples e menores, na maioria das vezes. Porém ainda sim eficientes para a música (que é o que um solo tem que ser, na minha opinião, ao invés de uma demonstração desnecessária de skill). No caso do Jack White, são também bem mais estridentes e bizarros do que quaisquer outros solos de qualquer coisa que faça som no mundo.

É isso, basicamente. Não vou me prolongar como fiz no último álbum do qual falei (tá ele merecia, vai). Mas fica aí a criatividade!
Sugestão forte: Ouçam o som desses caras: Albert Hammond Jr. e Nick Valensi (The Strokes), Jack White (The White Stripes, The Raconteurs), Alex Turner e Jamie Cook (The Arctic Monkeys).
E um brinde: John Frusciante. Do Red Hot Chili Peppers. É brinde pq não é rock moderno/alternativo/sei lá o que. Ele já foi eleito o guitarrista mais criativo do mundo, e suas linhas são geralmente simples, e muito originais. Puta som.
Músicas? "Seven Nation Army" - White Stripes (não tem música que mostre melhor um riff simples porém totalmente eficiente). "Flourescent Adolescent" - Arctic Monkeys. "Razorblade" - The Strokes. E lógico, "Readymade" - Red Hot, de brinde.

Considerações finais:
- Os caras das guitarras complicadas podem ser criativos sim, pra quem pensou que eu estava falando o contrário. Esse post é mais sobre simplicidade eficiente nas guitarras atuais que sobre criatividade.
- Os caras das guitarras simples podem ter momentos complexos também. Só que esses momentos não são a maior parte da sua obra.
- Os caras das guitarras simples ENTENDEM, SIM, de música. Tá, não necessariamente todos, mas a grande maioria sim. Senão, não teriam conseguido imaginar esses tais riffs tão fáceis que qualquer um podeira fazer mas nos quais ninguém tinha pensado antes.
--- Eu não quero dizer que um tá errado e outro tá certo. Só tou mostrando um ponto-de-vista. Por isso mesmo. Nesse caso, a simplicidade criativa importa muito. Mas no final das coisas, o que importa é o amor.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

The Strokes - "First Impression of Earth"

Desculpa se isso ficar muito longo!



Os Strokes são hoje, pra mim, uma das melhores bandas em atividade no mundo. É.

Aí eles lançaram o First Impressions of Earth, terceiro disco deles, no comecinho de 2006.
Eu, que estava começando a viciar na banda, comprei o meu logo (mais pra frente eu vou explicar porque foi uma ótima escolha ter comprado - e não baixado - esse cd). Ouvi e foi amor à primeira escuta. Mas teve gente por aí que não gostou muito dele não, e fala isso até hoje. Falam que esse disco não tem mais a essência dos strokes, que não parece o Is This It
(primeiro cd da banda), e bla bla bla.
Tá, tudo bem, tem gente que não gosta porque não gostou mesmo. Mas sei lá, eu não acho que tenha perdido a essência ou coisa do tipo. O que aconteceu foi, na minha opinião, um aumento de complexidade nas músicas (tanto na gravação quanto no conteúdo). E qualquer um que já ouviu os primeiros dos Strokes e ouve o FIOE (vou chamar assim pra economizar teclado) percebe o que tá na cara: o FIOE é mais rockão! (Pra quem leu meu último post, sobre o dia do rock e tal, não pensa que eu tou me contradizendo aqui, querendo definir e rotular, é que eu usei o termo rockão pra falar que é mais pesado, mais nervoso, mais encorpadão!) E talvez isso tenha incomodado fãs mais saudosistas, que queriam a mesma sonoridade pra sempre. Sei lá. Eu gosto de todos os 3 cds. Acho realmente muito bons. Tenho o Room on Fire e o FIOE. É a mesma coisa que o Metallica. Os caras têm uns 2138 cds, e tem fã que quer que todos eles tenham o mesmo som, o do primeiro (Kill 'em All). Eu acho legal que mude, gostei do cd sem solo, gostei do som da banda ter ficado muito (mas muito mesmo) mais grave que de início. MAS voltando aos Strokes...
Como eu disse, comprei o cd. E ouvindo tudo que eu pude deles, percebi que esse cd se tornou o meu favorito. Da banda e quem sabe do mundo! (fora o exagero, por um tempo foi sim, hoje eu já não sei mais qual ocupa esse posto). E de tanta coisa que dá pra falar (daí o aviso inicial, porque tem mita coisa pra falar e também porque eu não me canso de abrir parêntesis) eu decidi dividir a análise dele em 3 (três) partes. O Som, O Conteúdo e o Projeto Gráfico.
Vamos a elas:

O Som

- OUÇA COM FONES, se possível, é muito melhor, tem muitos detalhes a mais -
Começa a primeira música, You Only Live Once, e a introdução parece I Want to Break Free, do Queen! É! Eu não sei se só eu achei isso, mas põe aí pra tocar e tenta cantar a do Queen, vai dar certinho! Tá, mas aí o Julian começa a cantar e a música se torna Strokes mesmo. Só por ela já dá pra perceber que a coisa já tá mais pesada. Bom, aí pra quem não percebeu, o CD vai evoluindo, a segunda faixa já é Juicebox. Soco na boca! Não tem como. Strokes nunca teve tanto baixo e tanto peso. É bem forte mesmo, com uma pegada bem menos garage-rock como os primeiros cds e bem mais... hm... rockão. Riffs de guitarra fáceis e grudentos (não é ruim. isso quer dizer q vc fica cantarolando eles pro resto da sua vida), e aquele vocal de bêbado insano que só o Julian faz e todo mundo adora. Segundo o Marcon, Juicebox é a música mais empolgante do mundo! Aí vem Heart in a Cage, que eu também gosto muito, com guitarras mais altas que nunca, bateria quebrando tudo, aquele caos. Ótima música com um belo clipe. Depois, Razorblade, com guitarras e bateria excelentes, e um som divertido mas ainda pesado. Depois, On The Other Side. Mais calminha, pro cara não ter uma parada cardíaca. Lembra um pouco mais os primeiros cds. Em seguida, Vision of Division, que retoma o peso. Depois do refrão, rola um solo com uma cara egípcia e tudo o mais. Muito diferente e legal. É legal ouvir as guitarras (principalmente no fone esquerdo) que entram e saem rapidinho. Aí vem Ask Me Anything. Uma das músicas mais interessantes do cd. Nem tem bateria, Nem é pesada, nem nada. É o Julian cantando uma melodia bonita, uma distorçãozinha fazendo um riff legal no fundo, tudo calminho. É bem legal ouvir isso no meio do cd. Quebra o peso de um jeito que funciona. Depois, outro lembrete de que o cd é pesado: Electricityscape. Guitarra alta, riff muito bom, bateria bem empolgada, refrão forte. Tem um quê futurista que eu não sei explicar. Em seguida, Killing Lies. Um pouco mais calma e repetitiva. A música é quase a mesma coisa o tempo todo. A bateria dela é bem legal, e o vocal também, que alterna entre o perigo de overdose e uma força inesperada. Solinho gostoso no meio. “Bonitinha”, pra esse cd. Próxima: Fear of Sleep. Também não é das mais empolgadas e fortes, mas dá uma empolgada no final do refr
ão, o Julian grita bastante e tal. Aí tem 15 Minutes. Uma das músicas mais diferentes do cd. Começa baladinha, depois pega uma levada quase punk e depois empolga muito (mas muito mesmo!). É interessante nessa música a parte da letra em que o Julian canta frases com os números de 1 a 12, todas envolvendo a vida musical da banda, eu acredito. Acaba essa música e vem a melhor música do cd, quiçá do universo! Ize of the World. É meio inesperada no cd. Tem uma cara diferente. No refrão, os versos parecidos (todos terminados em “ize”, explicando o título) reforçam essa cara repetitiva da música. Quando o refrão está no auge da empolgação a música "quebra" e o ritmo acalma. Tem um solo bem bonito de guitarra, e a música volta no estilo de seu começo. E é nessa hora que há o verso mais incrível do cd, quiçá do universo! And I am a prisoner to instincts or do my thoughts just live as free and detatched as boats to the dock? Aqui, do nada, o Julian começa a cantar mais alto e mais alto e mais alto e acaba gritando muito alto! E a música normal, na levada dela! Incrível. E aí a música tem outro refrão, no qual no último verso a música simplesmente pára! É, ele tá cantando, a banda tá tocando, aí silêncio absoluto, do nada! Não dá tempo nem de ele acabar de falar a última palavra. Juro que eu pensei que fosse defeito no meu cd! Essa música vale a pena ser ouvida. Depois, pra dar uma acalmada no surto psicótico que vc tá tendo depois de Ize, vem Evening Sun. Bem calminha, estável, segura. É quase dormir depois de um dia difícil. Cai bem para o momento, e tem uma melodia bem bonita. O Julian nem grita! Guitarrinhas cuti-cuti, sem distorção. Baladinha boa. Depois, Red Light. Novamente, mais agitada. Tem a batida de bateria mais viciante do cd, riffs que as guitarras fazem em dueto (com uma deslocada um pouco acima na escala), a voz bem encaixadinha na música. Não é exatamente pesada. Depois, fica até meio dedilhada, com uma melodia bem legal. Aí acaba. É, o cd. É triste, mas ele acaba.


O Conteúdo

Desde o começo eu achei um título interessante. Pô, "Primeiras Impressões da Terra". Por que? Primeiras impressões de quem? De um E.T.? Sempre achei que as letras dariam algum sinal. Nunca percebi, no entanto. Uma história triste.

Aí hoje eu tava organizando certinho o que eu ia escrever aqui, e me veio uma idéia totalmente nova (pra mim): Uma pessoa! É, aí o disco seria feito de pensamentos aleatórios. Pontuais e sintéticos, feitos por uma pessoa que não necessariamente nasce no começo do disco e tá velha no final dele, mas um pessoa que viveu na Terra e escreveu observações das diversas fases da vida. Isso faz bastante sentido, ouvindo as músicas, lendo as letras, e (depois) vendo o encarte. Por exemplo, You Only Live Once fala justamente “só se vive uma vez”. Quanta gente já não falou isso e ainda vai falar? O cd começa com essa espécie de conselho, o que reforça a interpretação das próximas impressões. Desperta a vontade de viver e entender a vida (e o cd). Heart in a Cage pode ser o abandono do lar, a pressão de estar crescendo e virando adulto (o clipe também reforça isso). E tem o seguinte verso “See I’m stuck in a city/ But I belong in a field”, Estou preso na cidade mas pertenço ao campo. Uma coisa meio “não quero ir, não sou daqui”, todo o estranhamento. On the Other Side é meio sobre a tristeza, sobre os momentos difíceis, e até a raiva. Mas tem um pingo de esperança. No início da letra, há Nobody’s waiting for me on the other side. (Ninguém está me esperando do outro lado) E no final, I Know you’re waiting for me on the other side. (Eu sei que você está me esperando do outro lado). Fear of Sleep: O medo, que todo ser humano cedo ou tarde, de um modo ou de outro, sente. 15 Minutes eu pensei que fosse sobre fama ou coisa assim, mas lendo de outra forma, pode ser simplesmente sobre a euforia e as festas da vida! Até sobre a Música. Ize of The World seria a visão do caos do mundo, por uma pessoa que está associada a uma rotina de vida. A dificuldade de parar pra pensar, ver e tentar ajudar esse mundo enorme e conturbado. Evening Sun me parece mais uma representação do final da vida. Coisas que um velho diria aos mais jovens, conselhos e constatações. Red Light parece falar sobre as relações com as pessoas e um pouco sobre a mídia (mais para o final da música). Mas o que é interessante mesmo nela é a última frase, profética: “The sky is not the limit and you’re never gonna guess what is...” (O céu não é o limite e você nunca vai adivinhar o que é...) Isso remete a tudo. Aos limites que são presentes em aspectos de todas as partes da vida : O amor, o sucesso, a tecnologia, qualquer coisa. Até mesmo a morte. Ou até mesmo (e essa é boa pros fãs) a trajetória da banda.


O Projeto Gráfico

É por isso que eu fico feliz por ter comprado o CD original. Além, logicamente, de o CD oferecer uma qualidade de áudio IMENSAMENTE maior que o mp3, o encarte desse cd é demais! É lindo, cada música tem duas páginas só para ela, e cada uma tem um tratamento visual diferente. Como eu quero compartilhar isso com quem eu puder, scaneei todas as páginas de músicas do encarte pra mostrar aqui! Além de ser um belo trabalho visual, o encarte conta com um surpresa! Cada música tem uma mensagem escondida em algum lugar de suas duas páginas. E essas mensagems parecem anotações ou constatações (ora obviamente relacionadas à musica da página em que estão, ora de assimilação mais abstrata), o que reforça de novo o título do CD.

As imagens estão aí! Boa sorte com as mensagens! Pra quem não achar, ou estiver muito difícil de ler, as respostas estão nos comentários desse post!



É isso. Acabou! Assim como o cd uma hora tinha que acabar, esse tópico já tava passando dos limites! Espero que tenham lido e gostado, e que isso tenha despertado o interesse, pois é um dos melhores cds que já ouvi, e apesar de qualquer coisa, vale a pena ouvir (e ver) pelo menos uma vez!


Foi mal, ficou bem longo mesmo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Kid 17

Diz a lenda que se ao terceiro rugido do leão da Metro-Goldwyn-Mayer, na abertura d'O Mágico de Oz, for dado play no The Dark Side Of The Moon, do Pink Floyd, o disco soará como uma trilha musical para o filme, tanto pelas melodias quanto pelo conteúdo das letras. Esse é o mais clássico exemplo do ponto a que pode chegar a criatividade de fãs pelas bandas que admiram. Mas nesse post é outra lenda que nos interessa.
A lenda sobre a qual estou falando envolve outra banda, também inglesa como o Pink Floyd, o Radiohead.
Kid A, disco lançado em 2001, é conhecido pelas sonoridades pouco convencionais que tem. Nele a banda abusa de vozes distorcidas, sintetizadores, baterias eletrônicas e quase não sobre espaço para guitarra, bateria e demais instrumentos comuns que eram usados nos discos anteriores.
Aí alguém algum dia teve a idéia de botar o Kid A pra tocar, esperar 17 segundos e botar outro Kid A pra tocar. Aí surgiu o Kid 17.

Como não pretendo analisar melodias, letras, nem nada sobre o album original, apenas falar sobre a experiência de tocá-lo com ele próprio tocando junto, vou comentar faixa a faixa.

01 - Everything in it's Right Place
Essa música originalmente já tem várias vozes de Thom Yorke sobrepostas, no Kid 17 isso se intensifica. O duplicação do piano também ajuda a aumentar o clima denso da música, em alguns momentos em que gera intervalos mais dissonantes e com ritmo quebrado.

02 - Kid A
Nessa a coisa fica mais interessante, o piano que faz a melodia principal da música fica sincronizado com a sua cópia, a bateria também, a música flui muito bem e as vozes robotizadas só se cruzam em uma ou duas frases, na maioria do tempo um canta entre as frases do outro.

03 - The National Anthem
O instrumento mais marcante em The National Anthem é, sem dúvida, o baixo. E é justamente o baixo o único instrumento que fica sincronizado quando a música é tocada no Kid 17. A linha principal se preserva e continua se destacando na música. A voz, assim como na faixa anterior, encaixa os versos de um cd entre os versos do outro. Os solos de sopro, que já tem um tom caótico normalmente, ficam ainda mais confusos. E a bateria vira uma loucura.

04 - How To Disappear Completely
A letra de How To Disappear Completely é como um mantra, as frases se repetem várias e várias vezes. No Kid 17 a duplicação dá uma impressão de conversa, como se um disco respondesse a cada frase do outro. Apesar da letra não combinar com uma conversa, continua sendo um efeito bem interessante.
A bateria não fica sincronizada, mas ao contrário de National Anthem, soa bem, e a melodia também não causa tanto estranhamento.

05 - Treefingers
Treefingers é instrumental, sem percussão, cheia de notas longas e que se misturam. Duplicada, continua soando assim, nem parece que tá sendo tocada desse jeito. Alguém desavisado acreditaria se você dissesse que a música é asism mesmo.

06 - Optimistic
Essa é a única que não funciona. As guitarras misturadas até resultam em coisas legais de vez em quando, mas as vozes se atropelam, o ritmo das baterias fica muito estranho. Nas partes mais pesadas esse embolo até gera alguma coisa bacana, mas essa é mesmo a menos interessante.

07 - In Limbo
Aqui vale o mesmo que para Everything in it's right place, a música normalmente já tem várias vozes sobrepostas e isso se intensifica. A guitarra dedilhada as vezes se encontra com a sua duplicação e fica legal também. A bateria, que é cheia de viradas, fica meio confusa.

08 - Idioteque
Idioteque é a melhor música do Kid A, e também a melhor do Kid 17. As batidas eletrônicas que conduzem a música se sincronizam e em alguns momentos criam ritmos diferentes. As vozes também batem e cantam alguns versos juntas, em outros momentos, cantam versos diferentes ao meso tempo. Isso já existe na música original, então em alguns momentos thom canta quatro ou cinco coisas ao mesmo tempo. Perto do final, numa passagem instrumental da música, as batidas se combinam num ritmo mais quebrado que o da música original. Por essa música já vale a pena ouvir esse tal de Kid 17 (assim como por ela já vale a pela ouvir o Kid A).

09 - Morning Bell
Quando você ouve Idioteque no Kid17, você pensa que foi a partir dela que o inventor disso teve a idéia de fazer com o disco todo. Mas quando você ouve Morning Bell você já muda de idéia.
As baterias batem literalmente ao mesmo tempo, ou seja, soam como uma só, com mais volume. As vozes se complementam, assim como os outros instrumentos. Soa como se fosse uma música só.

10 - Motion Picture Soundtrack
A última música infelizmente não fica tão legal quanto as duas anteriores, então você acaba lembrando, antes dos discos acabarem, que é só uma dessas invenções de fã mesmo. Mas ainda tem coisas legais sim, as bases melódicas e os arpejos no piano ficam num clima ainda mais etéreo do que no original. A voz é que fica num ritmo esquisito.


No fim das contas, se você é fã do radiohead ou gosta dessas lendas malucas, eu acho que vale a pena sim ouvir o Kid 17 e ver o que você acha. Se precisar de uma justificativa, lembre-se que o album fala sobre o primeiro clone humano (o Kid A), e que é cheio de esquisitices mesmo, como o encarte "secreto", que vem debaixo da parte em que se encaixa o cd.
Já se você não gosta dessas lendas ou não é tão fã do Radiohead assim, vale a pena ouvir pelo menos Idioteque.
Claro que hoje em dia você não precisaria ter dois sons e duas cópias do cd para matar sua curiosidade sobre a lenda, alguém já sincronizou os arquivos e espalhou pela internet. Você pode baixar aqui, no ótimo blog Pendurado para Secar.
E, antes que alguém venha questionar minha sanidade, eu quero deixar claro que não acredito que a banda tenha feito o disco pensando nisso.


domingo, 13 de julho de 2008

13 de Julho - Dia do Rock

Poisé!
Hoje, domingo, 13 de Julho. Dia internacional do Rock.

Eu tinha que escrever alguma coisa aqui, afinal se não fosse o rock, esse aqui talvez nem existiria.

Como não tinha nenhuma análise de CD ou artista ou qualquer coisa na manga, tive que improvisar! (é um jam-post, pros piadistas de plantão)

Bom, começando pela imagem aí.
Fui no google, google imagens, deviantArt, e digitei "rock n roll" pra ver se vinha alguma coisa bonitinha pra eu ilustrar esse post. Até que vieram umas coisas interessantes, mas elas era muito específicas e tal. E eu queria uma coisa mais simbólica, mais sintética. Aí isso foi uma coisa que eu sempre pensei: Se tem um instrumento que deve ser o símbolo do rock, qual é? Aí eu sempre ficava entre a guitarra e a bateria. (pelo amor de deus, baixistas do mundo, não achem que eu estou desmerecendo o baixo, instrumento pelo qual eu tenho um verdadeiro vício. É que - devemos observar - a guitarra é mais expressiva, falando em rock. [Já no Jazz, eu sempre fico entre a bateria e o baixo!]) Aí, voltando ao assunto, como eu sempre toquei mais guitarra que bateria, puxei pro lado pessoal mesmo e aproveitei que já tinha essa silhueta aí - de uma Fender Stratocaster (modelo que foi consagrada, entre tantos outros, por Jimi Hendrix e Eric Clapton. Essa aí é uma do John Mayer) - que eu fiz um dia.

Eu não vou ser tonto de me meter a tentar definir o rock ou coisa do tipo. Isso é muito muito muito arriscado, e sempre que alguém faz, dá merda. Porque tudo é rock! Led Zeppelin é rock, Beatles é rock, Strokes é rock, Radiohead é rock, Rock brasileiro dos anos 80 é rock, Pato Fu é rock, Jorge Ben é rock, Gabriel o Pensador é rock, pop-rock é rock, tem funk que é rock, tem samba-rock, e aí vem o emo falando que faz rock... e é rock sim! Tudo é rock!
Sei lá. O Rock também só é o que é (um nome universal) por causa disso. todo mundo faz o rock, e o rock permite que ritmos regionais sejam incorporados. Acho que tudo pode receber um "-rock" no final. É só ver o caso dos Virgulóides (é, é, é, eu acho que o bagulho é de quem tá de pé, eles mesmos), que misturam pagode e rock, e dá certo!

Dentre tudo isso, vou analisar minha trajetória pelo rock, e não é pra me exibir não, é porque eu acho que cabe bem pro meu caso falar que o cara que gosta de rock gosta e sempre vai gostar, não importa como!
Começou quando eu era criança ainda, em tempos que eu afirmava ferrenhamente não sei porque) Eu nunca vou gostar de rock. Tolinho. Falava isso mas já ouvia Jorge Ben. Até que um dia a minha mãe comprou - pra ela - o CD que mudou a minha vida: Titãs - Acústico. Não teve como. Comecei a ouvir e gostei na hora! Lembro que eu adorava Marvin e Comida, pra não falar tantas outras desse CD que considero um dos melhores até hoje. Aí comecei a me aprofundar em titãs. Naquele tempo também afirmei, iludido, Ainda vou ter todos os CDs dos Titãs! Nunca consegui, infelizmente. Aí, outra coisa inevitável. Pelos Titãs fui conhecendo as outras bandas de rock brasileiro dos anos 80. Principalmente Paralamas, Ultrage, duas que também são paixões até hoje, Legião - que na época viciei muito também - e Barão. Bom, aí fui ouvindo. Mais tarde, comecei a gostar também do Raul Seixas (que também não tem como, né, é ouvir e gostar). Aí, não sei como, descambei pro rock internacional. E nessa fase, escolhi o punk-rock "moderno", pra aquela época. O que tocava daquilo era Offspring e Green Day. O Offspring foi um grande vício também, tenho vários CDs deles, gosto muito de todos! Aí meio junto com isso, virei metaleirinho. Criei uma paixão incondicional pelo Metallica (que gosto bastante até hoje) e curtia ouvir umas coisas mais pesadas. Nunca gostei de Iron Maiden, devo dizer. Aí disso fui caminhando, devagar, pra outras coisas. Durante tudo isso, fui gostando de umas coisas que não se enquadravam tanto em épocas. Teve uma mini-época Classic-Rock, com principalmente Led Zeppelin (amor de vida toda) e Deep Purple, e também teve o blues no meio das coisas, sempre. Eu sei, o post é sobre o rock. Mas o que seria dos primeiros rocks sem o blues, não é? Nisso, eu estava saindo do colegial, indo pro cursinho e depois pra faculdade. Foi a época da mudança de mentalidade. No cursinho fui apresentado a Los Hermanos e comecei a gostar do Rock "alternativo" atual. Isso aí só aumentou - e muito! - na faculdade. Aí, os ícones pra mim eram Strokes, fora do Brasil, e Los Hermanos, aqui dentro. Nessa época voltei a ouvir mais o Pato Fu, que é a banda da minha vida (ganhei um cd quando era pequeno ainda, o Tem Mas Acabou, viciei na hora e nunca mais parei)! Não sei, abri um pouco a cabeça pro rock nessa época (há uns três anos). Ouvia, além desses que acabei de falar, White Stripes (Jack White é rei!), Franz Ferdinand, etc. (Não dá pra falar ao certo desses ultimos acontecimentos usando os verbos no passado, porque estou no meio da faculdade e tem coisa que ainda estou começando e deixando de gostar) Bom, foi na faculdade também que - não sei como foi possível ter demorado tanto - comecei a gostar dos Beatles. E eles realmente foram demais. Demais mesmo. Não vou me exceder porque dá pra falar mols de linhas sobre eles. Aí também descobri o Teatro Mágico, a Nação Zumbi, o Tom Zé, os Mutantes, o Radiohead, o John Mayer, e umas coisas que são até atuais demais pra saber se são acontecimentos marcantes ou passageiros na minha vida musical (sobre esses últimos, quem sabe eu possa falar melhor, que nem eu fiz com as primeiras bandas, mais pra frente, quando esse blog tiver uns 5 anos e reconhecimento mundial. Aí vai estar na hora de eu olhar pra trás e falar isso, isso e aquilo).

E ainda estou descobrindo as coisas. E não quero parar.
É isso aí, feliz dia do Rock pra você!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida

Os Mutantes lançaram Mutantes e Seus Cometas No País do Baurets, seu quinto disco, em março de 1972. Mas não é dele que este post se trata.

O caso é que ainda no ano de 72, foi aberto em São Paulo o primeiro estúdio de 16 canais do país. E Os Mutantes, sempre interessados em tecnologias musicais e tudo mais que pudessem experimentar em sua música, logo quiseram gravar lá.
A gravadora não estava muito disposta a bancar outro album do grupo para aquele ano,
mas havia interesse numa carreira solo de Rita Lee, então a gravação foi liberada desde que fosse creditada a Rita, e não à banda. Assim, ainda no mesmo ano, Os Mutantes lançam, com o nome de Rita Lee, Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida

Como o disco saiu no nome de Rita, é ela que canta todas as músicas (não sozinha); no album anterior dos mutantes, o baurets, das 10 faixas do disco apenas duas eram cantadas por Rita (Vida de Cachorro e Rua Augusta).
Na época, além de insatisfeita por cantar poucos no album dos mutantes, Rita também não estava muito feliz com os rumos progressivos que a banda andava tomando (no ano seguinte Rita deixaria o grupo, de maneira conturbada e até hoje mal explicada). Mas nessa gravação os mutantes se parecem um pouco mais com os dos primeiros discos.

As músicas do álbum são:
1 - Vamos Tratar da Saúde
2 - Beija-me, Amor
3 - Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida
4 - Teimosia
5 - Frique Comigo
6 - Amor em Branco e Preto
7 - Tiroleite
8 - Tapupukitipa
9 - De Novo Aqui Meu Bom José
10 - Superfície do Planeta

Há humor na maioria das faixas, e também amor, num tom não muito lírico e meio descompromissado - A faixa-título diz "hoje é o primeiro dia do resto da sua vida e da minha também, então sente no meu colo".
Mas a característica mais interessante do disco é mesmo a experimentação dos mutantes no estúdio. Durante o disco há conversas deles no estúdio, pensando o que fazer ali (como a sugestão de gravar 4 vozes em cada um dos 16 canais, totalizando 64 vozes simultâneas), e muita coisa se percebe nas músicas mesmo.
Em quase todas as faixas há distorção na voz, ecos longos e várias vozes sobrepostas.
Em Beija-me Amor, Sérgio Dias, em talkbox (talkbox é um efeito de guitarra onde a voz do prórpio guitarrista dá a intensidade da distorção e do efeito. de acordo com os sons feitos pela boca do músico, as notas que estão sendo tocadas ficam diferentes) canta versos que haviam sido retirados pela ditadura ("... para que eu sinta a saliva e o gosto do cuspe escorrendo entre os dentes meus" - enquanto rita canta "para que eu sinta seu gosto mesclado com o gosto de amor mastigado entre os dentes meus"); Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida começa com sons de caixinha de música; Teimosia tem percussão que parece uma bateria de escola de samba; Amor Em Branco e Preto (uma declaração de amor ao Corinthians) tem trechos de narração de futebol enquanto a música toca, De Novo Aqui Meu Bom José tem mesmo 64 vozes, e por aí vai.
Fora isso, as vozes ficam indo da direita pra esquerda muitas vezes (como quando Rita diz "ver você do lado de lá" e "agora sou do lado de cá", por exemplo) e alguns instrumentos também. Outra característica marcante é baixo Rickenbacker de Liminha, sempre muito alto em todas as músicas.

As letras do album são, na maioria, tiração de sarro. Tapupukitipa têm os mutantes imitando índios, Tiroleite é um retrato de quem foge da cidade pra curtir a natureza, Frique Comigo aconselha: "Cê tem que ser maluco" e De Novo Aqui Meu Bom José ironiza a lírica José, que Rita havia gravado em seu primeiro disco solo, Build Up.

Porém, no final do disco a coisa fica séria. Superfície do Planeta, a última canção, única do disco assinada só por Arnaldo Baptista (todas outras são parcerias variadas entre Arnaldo, Rita, Sérgio e Liminha), é daquelas que valem um disco sozinhas. Arnaldo fala sobre o dia em que os discos voadores chegarão e trarão a verdade, "a voz de Deus / que ensinará a música / que nos dará a terra", e diz "vocês irão ver, vocês irão crer". Profético.
Daquelas conversas de estúdio que apareceram disco, surge uma frase no meio da música: "Presta atenção na letra"
Além da letra, vale comentar os vocais, Rita sussurra os versos, Arnaldo grita os refrões. E também o instrumental, sempre destaque nos mutantes. O Baixo continua muito presente, a bateria faz viradas que colaboram com tom épico. Teclados simulam os sons dos próprios discos voadores, e Sérgio faz uma das linhas de guitarra mais legais da carreira dos mutantes.

Antes de acabar o disco, depois da última canção, há ainda a última inserção de falas de bastidores, uma pergunta simples de Cláudio César Dias Baptista, irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio, que entre outras coisas, construiu a guitarra de ouro e operava as mesas de som nos shows da banda. É com essa pergunta que acaba o disco, e também esse post.

"Cê entendeu?"